segunda-feira, 13 de novembro de 2017

O quarto em desordem (Carlos Drummond de Andrade)

O quarto em desordem.

Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! Que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor

que não se sabe como é feita: amor,
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,

verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.

Carlos Drummond de Andrade

@poesia

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