domingo, 19 de novembro de 2017

Podres de Mimados

A prova do vestibular unificado, na década de 70, foi aplicada muitas vezes na arquibancada do Maracanã.

Naquela época não havia cadeiras. Era tudo um gigantesco cimentado disposto em níveis, onde se aglomeravam torcedores e candidatos – a depender do evento do dia.

Não sei exatamente até quando o maraca foi utilizado para a aplicação de provas. Só sei que passei por essa inesquecível experiência na década de 80, quando prestei concurso para admissão no CEFET/RJ,  Colégio Naval, EPCAR, ESPCEX, UFRJ, etc.

Todo mundo fazia a prova sentado no cimento quente, com a coluna toda torta, sem posição para escrever, pescoço doendo, segurando apenas uma prancheta e uma caneta, naquele calor senegalês.

Ninguém alegava lesão por esforço repetitivo, hérnia, bico de papagaio nem dor de junta. Não tinha chororô: a galera tinha casca grossa.

Hoje em dia, a garotada reclama do frio do ar-condicionado, da cadeira desconfortável, da luminosidade, do barulho do passarinho. A geração “merthiolate-que-não-arde” não aguenta sequer um ventinho frio e já se desfaz em profunda mágoa e revolta.

Não se quer aqui dizer que o bom era a prova no cimento, de forma alguma, mas tão somente traçar um paralelo entre as facilidades do mundo moderno e o surgimento catastrófico de uma geração de fracos.

O psiquiatra inglês Theodore Dalrymple, em “Podres de Mimados”, faz uma crítica ao que chamou de “sentimentalismo tóxico”, esclarecendo que “os pais de crianças a quem nada foi negado ficam sinceramente chocados quando elas se mostram egoístas, exigentes e intolerantes com a mais mínima frustração”.

Agora faça o seguinte exercício mental: tente transportar no tempo os adolescentes sensíveis de hoje, adequando-os às circunstâncias daquela época das provas no cimento. Quantos bibelôs sobreviveriam? Em que momento a coisa desandou – e o que será do mundo na vigência dessa geração de porcelanas delicadas?

Certa é a citação de autoria desconhecida:

“Tempos difíceis criam homens fortes.
Homens fortes criam tempos bons.
Tempos bons criam homens fracos.
Homens fracos criam tempos difíceis”.


Ludmila Lins Grilo

@social @psicologia

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