» CARLOS CRISTO
Membro do Conselho Consular da Embaixada de Portugal no Brasil,
De repente, o pequeno país, na ponta oeste da Europa, com uma história de glórias e um passado bastante recente de pobreza e pouca esperança, surge como um dos lugares desejados, no mundo, por turistas, imigrantes e aposentados. Destaca-se, num cenário de aflições, com excelente desempenho no combate à pandemia da covid-19.
Com uma área de 92.000 km², semelhante à de Santa Catarina e pouco mais de 10 milhões de habitantes, Portugal ainda tem um PIB per capita pouco elevado - US$ 36 mil - e o 49º lugar na economia mundial. Sua renda vem fundamentalmente dos setores de serviços e da agricultura. O país carrega uma dívida superior ao seu produto, mas tem conseguido expressivas taxas de crescimento e desemprego abaixo da média do bloco europeu.
Considerado um dos lugares mais seguros do mundo, oferece um clima agradável, um custo de vida baixo e serviços públicos de qualidade, o que atrai um contingente expressivo de estrangeiros, que transferem as aposentadorias e movimentam os mercados de consumo e de imóveis. Vivem em Portugal 150 mil brasileiros. Uns vieram à procura de segurança e aceitam trabalhos, na maioria precários, em lojas e restaurantes. Outros estudam, nas universidades locais, consideradas muito boas, e outros, ainda, desfrutam das suas pensões. Não há estatísticas sobre os lusodescendentes, que aproveitam a dupla cidadania para se instalarem, mas estima-se que o número seja parecido.
Na contramão, milhares de jovens portugueses deixam o país, a cada ano, em busca de melhores oportunidades de trabalho e de remunerações mais atraentes, boa parte, na Grã-Bretanha. Esse esvaziamento reflete-se, intensamente, no interior, onde os municípios se tornam "geriátricos", pela população local remanescente e pelos forasteiros aposentados que chegam.
A esse pequeno país do bloco europeu, bastante aquém dos irmãos escandinavos em renda e bem-estar, chega, no começo de março, a covid-19. Esperada desde janeiro por um governo consciente das limitações do SNS - Sistema Nacional de Saúde, e apoiado pelo presidente da República, pelo líder do principal partido da oposição e pelo conjunto da Assembleia da República, a chegada do vírus ensejou medidas rápidas, como o fechamento das fronteiras e o confinamento. Simultaneamente, foram apoiadas as pessoas físicas e jurídicas mais vulneráveis na nova realidade sociolaboral.
A prioridade do governo foi a saúde, sem o que não pode haver trabalho e, obviamente, sem trabalho não há economia. Mas, ao contrário do que muitos possam pensar - no Brasil, coloca-se o falso dilema saúde ou economia - a economia portuguesa não parou totalmente, muitas indústrias não pararam, a agricultura não parou. Boa parte do comércio parou, o turismo e boa parte da restauração pararam -- exceção para algumas unidades hoteleiras que abrigam profissionais da segurança e da saúde e, também, idosos.
As rápidas medidas visaram não estressar o Sistema Nacional de Saúde, com 3,9 leitos hospitalares por mil habitantes e 325 unidades de terapia intensiva por100 mil habitantes. O resultado é que não chegaram a ser ocupados um décimo dos leitos disponíveis e talvez 20% dos respiradores. Não houve a escolha de Sofia em Portugal.
Mas o que é que está por trás desse "milagre"? Primeiro, investimentos contínuos e crescentes no Sistema Nacional de Saúde, nos últimos cinco anos, em pessoas e em equipamentos. Por seu lado, a questão política faz toda a diferença: quando o líder do PSD, o grande partido de oposição, é interrogado num programa televisivo se estaria apoiando o Partido Socialista - atualmente no governo - a resposta é clara: está apoiando o governo, o país e o povo.
Com o partido do governo continuam as divergências, mas a discussão está interrompida durante a pandemia. O presidente da República assume protagonismo inusitado num regime parlamentarista e colabora ostensivamente com o governo, sendo interlocutor da sociedade civil, do empresariado. O governo expõe-se intensamente, em todos os meios de comunicação, por força da democracia, do direito que os cidadãos têm de serem informados e da necessidade de orientação.
O resultado, para além do combate à pandemia, deverá ser um país com a autoestima elevada, com a população consciente de que poderá enfrentar desafios com sucesso e, quem sabe, estará a superar a síndrome do D. Sebastião, o rei que nunca voltou, transformado num messias que retirou do povo, por muito tempo, a esperança de se superar que, estimo, tenha sido agora devolvida.
Com uma área de 92.000 km², semelhante à de Santa Catarina e pouco mais de 10 milhões de habitantes, Portugal ainda tem um PIB per capita pouco elevado - US$ 36 mil - e o 49º lugar na economia mundial. Sua renda vem fundamentalmente dos setores de serviços e da agricultura. O país carrega uma dívida superior ao seu produto, mas tem conseguido expressivas taxas de crescimento e desemprego abaixo da média do bloco europeu.
Considerado um dos lugares mais seguros do mundo, oferece um clima agradável, um custo de vida baixo e serviços públicos de qualidade, o que atrai um contingente expressivo de estrangeiros, que transferem as aposentadorias e movimentam os mercados de consumo e de imóveis. Vivem em Portugal 150 mil brasileiros. Uns vieram à procura de segurança e aceitam trabalhos, na maioria precários, em lojas e restaurantes. Outros estudam, nas universidades locais, consideradas muito boas, e outros, ainda, desfrutam das suas pensões. Não há estatísticas sobre os lusodescendentes, que aproveitam a dupla cidadania para se instalarem, mas estima-se que o número seja parecido.
Na contramão, milhares de jovens portugueses deixam o país, a cada ano, em busca de melhores oportunidades de trabalho e de remunerações mais atraentes, boa parte, na Grã-Bretanha. Esse esvaziamento reflete-se, intensamente, no interior, onde os municípios se tornam "geriátricos", pela população local remanescente e pelos forasteiros aposentados que chegam.
A esse pequeno país do bloco europeu, bastante aquém dos irmãos escandinavos em renda e bem-estar, chega, no começo de março, a covid-19. Esperada desde janeiro por um governo consciente das limitações do SNS - Sistema Nacional de Saúde, e apoiado pelo presidente da República, pelo líder do principal partido da oposição e pelo conjunto da Assembleia da República, a chegada do vírus ensejou medidas rápidas, como o fechamento das fronteiras e o confinamento. Simultaneamente, foram apoiadas as pessoas físicas e jurídicas mais vulneráveis na nova realidade sociolaboral.
A prioridade do governo foi a saúde, sem o que não pode haver trabalho e, obviamente, sem trabalho não há economia. Mas, ao contrário do que muitos possam pensar - no Brasil, coloca-se o falso dilema saúde ou economia - a economia portuguesa não parou totalmente, muitas indústrias não pararam, a agricultura não parou. Boa parte do comércio parou, o turismo e boa parte da restauração pararam -- exceção para algumas unidades hoteleiras que abrigam profissionais da segurança e da saúde e, também, idosos.
As rápidas medidas visaram não estressar o Sistema Nacional de Saúde, com 3,9 leitos hospitalares por mil habitantes e 325 unidades de terapia intensiva por100 mil habitantes. O resultado é que não chegaram a ser ocupados um décimo dos leitos disponíveis e talvez 20% dos respiradores. Não houve a escolha de Sofia em Portugal.
Mas o que é que está por trás desse "milagre"? Primeiro, investimentos contínuos e crescentes no Sistema Nacional de Saúde, nos últimos cinco anos, em pessoas e em equipamentos. Por seu lado, a questão política faz toda a diferença: quando o líder do PSD, o grande partido de oposição, é interrogado num programa televisivo se estaria apoiando o Partido Socialista - atualmente no governo - a resposta é clara: está apoiando o governo, o país e o povo.
Com o partido do governo continuam as divergências, mas a discussão está interrompida durante a pandemia. O presidente da República assume protagonismo inusitado num regime parlamentarista e colabora ostensivamente com o governo, sendo interlocutor da sociedade civil, do empresariado. O governo expõe-se intensamente, em todos os meios de comunicação, por força da democracia, do direito que os cidadãos têm de serem informados e da necessidade de orientação.
O resultado, para além do combate à pandemia, deverá ser um país com a autoestima elevada, com a população consciente de que poderá enfrentar desafios com sucesso e, quem sabe, estará a superar a síndrome do D. Sebastião, o rei que nunca voltou, transformado num messias que retirou do povo, por muito tempo, a esperança de se superar que, estimo, tenha sido agora devolvida.
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