Não finja que é simples trabalhar em casa agora
Vicky Bloch
Rumo Certo
Um dos grandes desafios para os profissionais e para as empresas tem sido o home office. No início, o corre-corre girava em torno das adaptações ao modelo e ao que ele implica de forma prática. Surgiram muitos debates e artigos trazendo dicas de uso das ferramentas de trabalho à distância, de como se organizar em casa, de como se comportar em videoconferências, da necessidade de se estabelecer uma rotina, etc.
De uma forma ou de outra, essa engrenagem técnica agora está funcionando. As empresas que não tinham tal prática foram obrigadas a implementar, assim como os indivíduos que não estavam habituados foram obrigados a se organizar.
O que vejo agora é a necessidade de darmos um passo à frente na conversa sobre o home office. Além das questões práticas, há um efeito psicológico e emocional importante que precisa ser mais debatido e compreendido — ou, em breve, teremos uma enxurrada de surtos psicológicos. Afinal, não há apenas um membro da família trabalhando em casa: estamos falando de famílias inteiras em um mesmo ambiente 24 horas tentando agir como se fosse possível estabelecer uma rotina. Sem falar na tensão extrema dos profissionais de saúde e seus familiares. Pior, isso tudo diante de um cenário extremamente arriscado do ponto de vista de saúde, em que o medo da morte é permanente, em que não se pode prever a volta à normalidade.
“Evite interferências. Não ligue a TV se estiver trabalhando. Avise seus familiares que está trabalhando e peça para não ser interrompido. Mantenha a porta fechada para se concentrar”. Aposto que muitas pessoas (especialmente as que tem filhos pequenos) riem quando leem esse tipo de dica. “Ah, basta dividir o horário com o parceiro ou parceira!” Mas e as mães ou pais que criam filhos sozinhos? Como fazem para trabalhar, manter a casa minimamente em ordem, fazer comida e acompanhar as crianças nas atividades escolares? E casais com problemas de relacionamento que mal se falam? As particularidades são infinitas e os impactos emocionais, idem.
Tenho ouvido diariamente a reclamação de profissionais —de jovens a altos executivos — completamente esgotados. Muitos dizem que estão trabalhando mais do que antes. Gente fazendo tripla jornada, voltando a trabalhar depois que os filhos dormem.
Na semana passada, uma cliente começou a entrar em pânico. Tive que ajudá-la a se organizar e convencê-la de que era fundamental que ela negociasse mudanças com a chefe. Tive de fazê-la enxergar que ela não tinha um problema por não dar conta de tudo e que não podia descontar em seus subordinados a sua falta de habilidade em lidar com a pressão. Brasileiros, em geral, tem dificuldade de dizer não, o que torna as negociações difíceis. Mas estamos vivendo uma fase tão diferente do que já vivemos, que não se pode exigir que as coisas funcionem como antes. Em meio à falta de limitação dos espaços casa e trabalho, os papéis precisam ser negociados.
Se seu chefe não é capaz de compreender que você não está disponível 100% do tempo para reuniões, talvez seja o momento de repensar seus projetos profissionais e de carreira. Se você tem um parceiro ou parceira e essa pessoa não é capaz de estabelecer uma troca com você para que ambos possam exercer seus diferentes papéis da melhor forma, talvez seja hora de terem uma conversa mais aberta. E se você é a pessoa que não está respeitando o espaço do parceiro ou do subordinado, reflita e exerça a empatia.
O que tenho dito nesta fase é: seja o que for, você tem que dizer. É preciso ter coragem de negociar para se proteger e não enlouquecer— respeitando o espaço do próximo. Outra dica é: não veja notícias antes de dormir. Faça isso em prol da sua sanidade. Se puder, faça terapia por vídeo. Pode ajudar muito.
Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados
Um dos grandes desafios para os profissionais e para as empresas tem sido o home office. No início, o corre-corre girava em torno das adaptações ao modelo e ao que ele implica de forma prática. Surgiram muitos debates e artigos trazendo dicas de uso das ferramentas de trabalho à distância, de como se organizar em casa, de como se comportar em videoconferências, da necessidade de se estabelecer uma rotina, etc.
De uma forma ou de outra, essa engrenagem técnica agora está funcionando. As empresas que não tinham tal prática foram obrigadas a implementar, assim como os indivíduos que não estavam habituados foram obrigados a se organizar.
O que vejo agora é a necessidade de darmos um passo à frente na conversa sobre o home office. Além das questões práticas, há um efeito psicológico e emocional importante que precisa ser mais debatido e compreendido — ou, em breve, teremos uma enxurrada de surtos psicológicos. Afinal, não há apenas um membro da família trabalhando em casa: estamos falando de famílias inteiras em um mesmo ambiente 24 horas tentando agir como se fosse possível estabelecer uma rotina. Sem falar na tensão extrema dos profissionais de saúde e seus familiares. Pior, isso tudo diante de um cenário extremamente arriscado do ponto de vista de saúde, em que o medo da morte é permanente, em que não se pode prever a volta à normalidade.
“Evite interferências. Não ligue a TV se estiver trabalhando. Avise seus familiares que está trabalhando e peça para não ser interrompido. Mantenha a porta fechada para se concentrar”. Aposto que muitas pessoas (especialmente as que tem filhos pequenos) riem quando leem esse tipo de dica. “Ah, basta dividir o horário com o parceiro ou parceira!” Mas e as mães ou pais que criam filhos sozinhos? Como fazem para trabalhar, manter a casa minimamente em ordem, fazer comida e acompanhar as crianças nas atividades escolares? E casais com problemas de relacionamento que mal se falam? As particularidades são infinitas e os impactos emocionais, idem.
Tenho ouvido diariamente a reclamação de profissionais —de jovens a altos executivos — completamente esgotados. Muitos dizem que estão trabalhando mais do que antes. Gente fazendo tripla jornada, voltando a trabalhar depois que os filhos dormem.
Na semana passada, uma cliente começou a entrar em pânico. Tive que ajudá-la a se organizar e convencê-la de que era fundamental que ela negociasse mudanças com a chefe. Tive de fazê-la enxergar que ela não tinha um problema por não dar conta de tudo e que não podia descontar em seus subordinados a sua falta de habilidade em lidar com a pressão. Brasileiros, em geral, tem dificuldade de dizer não, o que torna as negociações difíceis. Mas estamos vivendo uma fase tão diferente do que já vivemos, que não se pode exigir que as coisas funcionem como antes. Em meio à falta de limitação dos espaços casa e trabalho, os papéis precisam ser negociados.
Se seu chefe não é capaz de compreender que você não está disponível 100% do tempo para reuniões, talvez seja o momento de repensar seus projetos profissionais e de carreira. Se você tem um parceiro ou parceira e essa pessoa não é capaz de estabelecer uma troca com você para que ambos possam exercer seus diferentes papéis da melhor forma, talvez seja hora de terem uma conversa mais aberta. E se você é a pessoa que não está respeitando o espaço do parceiro ou do subordinado, reflita e exerça a empatia.
O que tenho dito nesta fase é: seja o que for, você tem que dizer. É preciso ter coragem de negociar para se proteger e não enlouquecer— respeitando o espaço do próximo. Outra dica é: não veja notícias antes de dormir. Faça isso em prol da sua sanidade. Se puder, faça terapia por vídeo. Pode ajudar muito.
Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados
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