UE e Brasil contra a pandemia
quarta-feira, 22 de julho de 2020
Valor Econômico / Opinião
Por Ignacio Ybáñez
Enquanto o vírus existir em algum lugar do mundo, será uma ameaça a todos.
A União Europeia lançou seu pacote “Time Europa” para apoiar os países parceiros na luta contra a covid-19. O objetivo é combinar recursos da UE, seus Estados-membros e instituições financeiras europeias. O vírus não conhece fronteiras; enquanto existir em algum lugar do mundo, continua a ser uma ameaça à saúde pública em todos os lugares, e portanto, combater a pandemia juntos é do interesse de todos. Solidariedade, coesão e convergência são os princípios básicos da resposta da União Europeia, tanto internamente como em cooperação com os seus parceiros.
A União Europeia é uma firme defensora da cooperação internacional, do multilateralismo e do papel fundamental da OMS na luta contra a covid-19, e é a principal doadora mundial de ajuda internacional a emergências. Nestes tempos difíceis, a troca de experiências, a cooperação científica, a solidariedade e proteção dos direitos dos mais vulneráveis constituem ações capazes de nos ajudar a sair dessa crise sem precedentes e de nos orientar para uma recuperação inclusiva para todos.
E é por isso que, apesar de nossas próprias dificuldades, a União Europeia decidiu disponibilizar imediatamente os programas de cooperação técnica e financeira com a América Latina e o Caribe, com um total de €918 milhões (R$ 5,6 bilhões), como parte da resposta global em apoio aos esforços dos países parceiros no combate à covid-19.
Em sua parceria estratégica com o Brasil, a União Europeia está empenhada em continuar cooperando na busca de soluções que atenuem os custos humanos e socioeconômicos desta crise. Reconhecida a emergência, o primeiro passo foi verificar os recursos disponíveis nos projetos de cooperação que poderiam ser mais rapidamente mobilizados, seja para desenvolver campanhas educativas ou para adquirir insumos necessários durante o isolamento social. €11,7 milhões (R$ 71,5 milhões) em subvenções e €62,5 milhões de euros (R$ 382 milhões) em empréstimos estão sendo disponibilizados pela UE e seus Estados Membros para as parcerias que se engajaram no enfrentamento à covid-19 no Brasil. Ademais, montantes substanciais encontram-se em negociação para ajudar na recuperação econômica.
Todas as representações dos países membros da UE no Brasil estão envolvidas em ações para enfrentar a pandemia. Aqui vão alguns exemplos. Juntamente com empresas alemãs no Brasil, a Alemanha introduziu unidades móveis de teste para pacientes da covid- 19, para que os testes possam ser realizados mesmo em locais mais remotos. Em cooperação com o Banco Mundial e bancos de desenvolvimento regionais, a Alemanha está ajudando a assegurar que, mesmo durante a pandemia, famílias vulneráveis tenham acesso a renda e trabalho.
Desde o início da crise sanitária, as representações diplomáticas e consulares da Bélgica no Brasil desenvolveram projetos nas regiões mais afetadas, em colaboração com ONGs belgas e seus parceiros locais, para ajudar as populações vulneráveis mais afetadas, com o suprimento de produtos de necessidade básica. As representações belgas também se esforçam para promover a cooperação científica entre a Bélgica e o Brasil no contexto da crise sanitária, através do fortalecimento de vínculos existentes, como acontece com a Fundação Oswaldo Cruz, bem como o apoio, coordenado por Wallonie- Bruxelles International, a projetos de produção no Brasil de respiradores em “open-source” focados no modelo “Breath4Life” desenvolvido pela UCLouvain.
Além de fornecer assistência aos residentes mais vulneráveis do Distrito Federal, a embaixada da França forneceu uma ajuda de cerca de R$ 18 milhões para ações de apoio às populações nos Estados do Amapá e Amazonas. Essa ação possibilitou a compra de equipamentos médicos para hospitais de Manaus e Macapá, o transporte de pacientes em estado grave de áreas isoladas até unidades de saúde e a distribuição de medicamentos e ajuda alimentícia para as populações mais vulneráveis. Consciente sobre o sério impacto que a covid- 19 está causando em comunidades indígenas, a Irlanda está apoiando os esforços para fortalecer a capacidade de assistência à saúde nas comunidades indígenas no Estado do Amazonas.
A Eslovênia elogia o compromisso do Brasil de receber e apoiar os refugiados e migrantes venezuelanos, o qual foi mantido durante a crise da covid-19, e está apoiando o Brasil neste compromisso por meio de uma contribuição ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Espanha e as suas empresas no Brasil estão trabalhando juntamente com as autoridades e a sociedade civil brasileira em muitas ações concretas que proporcionam ajuda alimentar, abertura de hospitais, organização de sessões clínicas e fornecimento de materiais sanitários para atender a doentes em Brasilia, Goiás, Salvador e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o colégio Miguel de Cervantes abriu suas portas para os filhos dos servidores do Hospital Albert Einstein. A Espanha também apoia um programa de ajuda para refugiados indígenas venezuelanos em Roraima.
A Itália foi um dos primeiros países a advogar a constituição de uma aliança internacional para avançar na pesquisa e distribuição equitativa de uma vacina para responder à crise da saúde, anunciando mais de €400 milhões em contribuições para sustentar os esforços globais. A Embaixada da Itália no Brasil juntou alguns projetos para a distribuição de cestas básicas para as famílias do Distrito Federal que estão em situação de vulnerabilidade. Portugal participou no esforço multilateral de resposta global de várias Agências das Nações Unidas, nomeadamente da OMS e está apoiando ações do ACNUR na Venezuela, que poderá assumir importância no caso do Brasil, atendendo ações de proteção e acolhimento de migrantes e de refugiados venezuelanos.
A Suécia contou com suas empresas no Brasil para se engajar em ações de enfrentamento à covid- 19. Ao lado do Senai, a Scania realizou a manutenção de respiradores mecânicos sem uso ou com defeitos e utilizou impressoras 3D para produzir protetores faciais. A Volvo disponibilizou 250 veículos para transportar médicos e enfermeiros para hospitais, levar doações para lugares de difícil acesso em São Paulo. Pesquisadores do Karolinska Institutet, de Estocolmo, também integram um time de cientistas da UFSC, UFMG, UFRJ, Instituto Butantã e Oxford University trabalhando no desenvolvimento de uma vacina.
A União Europeia apoia os esforços para ter uma vacina acessível a todos os países. Sair o mais rapidamente possível da devastadora crise econômica mundial provocada pela pandemia requer solidariedade, porque o grau de interligação das economias do planeta é muito elevado. Como disse Josep Borrell em seu blog: “Estamos todos no mesmo barco e chocamos contra um iceberg. Neste momento, o que é necessário é evitarmos, entre todos, que o barco afunde”.
"A UE apoia os esforços para ter uma vacina acessível a todos. Sair o mais rapidamente possível da devastadora crise econômica mundial provocada pela pandemia requer solidariedade, porque o grau de interligação das economias do planeta é muito elevado"
Ignacio Ybáñez é embaixador da União Europeia no Brasil
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