quarta-feira, 15 de julho de 2020

Atuação na Amazônia expõe as Forças Armadas e incomoda Mourão

Atuação na Amazônia expõe as Forças Armadas e incomoda Mourão
quarta-feira, 15 de julho de 2020

  
Valor Econômico  / Brasil

Murillo Camarotto De Brasília

Repetidas declarações do vice-presidente Hamilton Mourão sobre a atuação do Exército no combate ao desmatamento na Amazônia reforçaram ontem o sentimento de desconforto da ala militar do governo com a exposição a que as Forças Armadas estão sendo submetidas na gestão do presidente Jair Bolsonaro. 

Em reunião com senadores, Mourão defendeu que a reestruturação dos órgãos que atuam na Amazônia seja prioridade, de forma a encerrar o quanto antes a presença dos militares na região. “Sem reequipar essas agências, vamos ficar no emprego prematuro e constante das Forças Armadas, que devem ser preservadas para outras atividades”, afirmou o vice-presidente. 

Integrantes da ala fardada do governo já vinham demonstrando incômodo com a presença excessiva de militares em ações de governo. Bolsonaro está sendo pressionado, por exemplo, a tirar o general Eduardo Pazzuelo do Ministério da Saúde. A questão, inclusive, já gerou uma crise com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). 

No último final de semana, o magistrado fez críticas ao papel desempenhado pelos militares na condução das políticas de combate à pandemia, chegando a dizer que as forças estariam se associando a um genocídio. A fala gerou forte reação dos fardados, que já vinham irritados com a exposição dos militares. 

No encontro com os senadores, Mourão ouviu elogios de parlamentares governistas e de oposição, além de reiterados pedidos de demissão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O vice, entretanto, se limitou a dizer que Salles, “por enquanto”, tem a confiança de Bolsonaro.

O próprio líder do governo no Congresso, o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), chegou a dizer que Mourão conseguiu resgatar a confiança e a interlocução do governo com embaixadores estrangeiros e empresários.

Mourão informou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, irá encaminhar ao Congresso um projeto de lei pedindo crédito extraordinário para viabilizar a manutenção dos militares na Amazônia até o fim do ano. 

Mesmo contrariado, o vice disse que hoje a presença é necessária para garantir a integridade física dos servidores dos órgãos fiscalizadores, citando ICMBio, Ibama, Funai e Incra. “Nossas agências perderam capacidade operacional, daí a necessidade das Forças Armadas. Queremos tirar as Forças mais rápido possível desse tipo de atividade”, reforçou. 

Mourão — que foi nomeado por Bolsonaro para comandar o Conselho da Amazônia — disse que não foi consultado pelo presidente sobre os vetos às medidas de proteção de povos indígenas e quilombolas ao coronavírus. 

Ainda sobre a questão indígena, o vice-presidente chamou de “falácia” a versão de que há cerca de 20 mil garimpeiros em terras yanomamis. Mourão afirmou que os relatórios de inteligência falam em cerca de 3,5 mil garimpeiros na área, espalhados em 400 pontos de garimpo. Ele alertou ainda que uma eventual retirada deles não será muito fácil. 

“Não é como tirar camelôs da avenida Presidente Vargas”, comparou Mourão, referindo-se a um famoso ponto de comércio informal no centro do Rio de Janeiro. “Não se resolve só com repressão”, complementou. 

Mourão defendeu ainda que eventuais recursos externos enviados ao Brasil para a proteção da Amazônia sejam deixados de fora do Orçamento, com vistas a melhorar a aplicação dos recursos no combate ao desmatamento e às queimadas, bem como em medidas de regularização fundiária. O pleito deve ser apresentado na reunião do Conselho da Amazônia, marcada para hoje.

A maioria dos senadores da região amazônica manifestou uma posição um pouco mais alinhadas ao governo, especialmente nas crítica à forma pela qual outros países vêm criticando o Brasil. Esses parlamentares defenderam a necessidade de desenvolvimento econômico da Amazônia e ressaltaram os interesses particulares de quem critica o Brasil. 

Já os senadores de oposição e aqueles mais alinhados ao agronegócio, disseram que a solução passa pela demissão de Salles.

Fac-Símile

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