Fundo soberano norueguês reduz aplicação no Brasil
Investimentos Vale, por exemplo, foi excluída do portfólio pelo ‘risco de contribuir para graves danos ambientais’
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
Valor Econômico / Finanças
Assis Moreira
Os investimentos do fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, declinaram no Brasil em alguns bilhões de dólares no primeiro semestre do ano, o que coincidiu com turbulências nos mercados e pressões crescentes de fundos estrangeiros pela proteção da Amazônia.
O fundo norueguês de cerca de US$ 1,15 trilhão, cujos movimentos são capazes de influenciar outros fundos, tinha cerca de US$ 9,6 bilhões investidos no Brasil em dezembro de 2019, sendo US$ 7,6 bilhões em ações de 136 companhias e US$ 2,0 bilhões em renda fixa.
Mas os investimentos em ações brasileiras, que representavam 1% do total aplicado globalmente no segmento no ano passado, caíram em junho para 0,6% do total, ou cerca de US$ 5,2 bilhões. Por sua vez, investimentos em títulos da dívida em reais, que representaram 0,7% do total aplicado no segmento em 2019, agora não apareceram mais na lista de alocação dos valores mais significativos.
Ao mesmo tempo em que reduziu as aplicações no Brasil, o fundo soberano aumentou as apostas em companhias da China e de Taiwan, entre os mercados emergentes.
Em seu relatório semestral divulgado ontem, o fundo soberano norueguês confirma a decisão do Norges Bank, o banco central do país e seu controlador, de excluir investimentos em 12 companhias, duas delas brasileiras, e admitir três.
Segundo o fundo, a Vale foi excluída do seu portfólio pelo “risco de contribuir para graves danos ambientais”. A Eletrobrás também não terá mais investimentos do fundo “devido a um risco inaceitável de a empresa contribuir para violações graves ou sistemáticas dos direitos humanos”, em referência a projetos que afetariam grupos indígenas.
O investimento do fundo na Vale era de US$ 375 milhões.
Na Eletrobrás era de US$ 52,6 milhões no ano passado.
No relatório, o fundo norueguês não faz comentários sobre o Brasil ou a política ambiental do país. Mas o tema é de forte interesse na Escandinávia. Vários gestores estrangeiros alertaram o governo brasileiro, recentemente, para o risco de retirarem investimentos no país se a proteção da Amazônia não fosse garantida.
O fundo soberano norueguês sofreu perda de 188 bilhões de coroas norueguesas (US$ 21,2 bilhões) entre janeiro e junho, na esteira do choque nos mercados com a pandemia de covid-19. O rendimento da carteira de investimentos como um todo caiu 3,4%. O retorno sobre os investimentos em ações foi de -6,8%; no setor imobiliário ficou em -1,6%; já em renda fixa houve um resultado positivo, de 5,1%. O rendimento total do fundo ficou 11 pontos-base abaixo do retorno de índices de referência (“benchmark index”).
O vice-CEO do fundo, Trond Grande, destacou fortes flutuações no mercado de ações nesse período. “O ano começou com otimismo, mas as perspectivas do mercado de ações viraram rapidamente quando o coronavírus começou a se propagar globalmente. No entanto, o forte declínio do mercado de ações no primeiro trimestre foi limitado por respostas de políticas financeira e monetária maciças.”
Grande ressalvou que, mesmo se os mercados se recuperarem bem no segundo semestre, “ainda testemunharemos incertezas consideráveis ”. O fundo soberano norueguês tem sua receita vinda da indústria de petróleo e gás. Seus ativos são três vezes maiores que o Produto Interno Bruto (PIB) da Noruega. Seu valor total equivale a US$ 214 mil para cada pessoa no país.
Neste ano, em meio aos estragos da pandemia, o fundo vendeu alguns ativos para o governo fazer um pacote de estímulo econômico de US$ 19 bilhões.
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