quarta-feira, 15 de abril de 2020

Ajuda de BCs contra covid-19: mais de US$ 6 trilhões(Valor, 15 4 2020)

Ajuda de BCs contra covid-19 soma mais de US$ 6 trilhões
Crise - Para FMI, autoridades são primeira linha de defesa econômica
Quarta-feira, 15 de Abril de 2020 - 00:00

Sérgio Tauhata De São Paulo

IMPACTOS DO CORONAVÍRUS

Os Bancos Centrais têm sido a primeira linha de defesa contra a pandemia no mundo, afirma o relatório de Estabilidade Financeira Global do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado nesta terça-feira. Até o momento, programas de expansão dos balanços anunciados pelas autoridades, que incluem linhas emergenciais e compras de ativos, já ultrapassam US$ 6 trilhões.

As ações dos BCs contribuem para preservar a estabilidade do sistema financeiro e dar suporte à economia global, aponta a entidade. Apesar do volume do apoio financeiro já definido, as instituições indicam estarem prontas a fazer mais, se for necessário.

O FMI aponta o afrouxamento de política monetária como uma das medidas mais importantes. "No caso das economias avançadas, os BCs cortaram as taxas para as mínimas históricas", considera. Em relação aos emergentes, o órgão destaca que perto da metade dos condutores de política monetária do grupo também já realizou reduções de juros.

O fundo destaca ainda a liquidez adicional ao sistema financeiro providenciada pelas autoridades, o que inclui até operações no mercado aberto. O FMI também acrescenta que vários BCs concordaram em aumentar a liquidez em dólar por meio de linhas de “swap” com o Fed.

Na avaliação dos técnicos do fundo monetário, os BCs agiram rápido e reativaram programas usados durante a crise financeira global. Além disso, as autoridades lançaram uma ampla gama de respostas e novas ferramentas, que incluem a compra de ativos com maior risco, como títulos de dívida corporativa.

“Ao efetivamente se tornar ‘compradores de última instância’ nesses mercados e ajudar a conter as crescentes pressões sobre o custo de crédito, os bancos centrais estão assegurando que famílias e empresas tenham crédito a preços acessíveis.”

Mesmo com uma ação coordenada dos banco centrais, a pandemia do coronavírus já afeta dramaticamente o sistema financeiro global, avalia o FMI. De acordo com o diretor do departamento monetário e de mercado de capitais do fundo, Tobias Adrian, um dos autores do relatório de estabilidade financeira, “no ponto onde estamos, há uma grande incerteza sobre a severidade e duração” da retração econômica causada pelas medidas para contenção do vírus.

Segundo o relatório do FMI, uma futura intensificação da crise pode ameaçar a estabilidade financeira global. Desde o início da pandemia, os preços dos ativos de risco têm caído acentuadamente. Segundo o órgão, no pior ponto da recente onda de vendas, os ativos de risco sofreram metade ou mais dos maiores declínios experimentados durante a crise financeira global.

“Por exemplo, muitos mercados acionários — tanto nas grandes quanto nas pequenas economias — apresentaram declínio de 30% ou mais até o momento”, aponta o relatório. Os “spreads” de crédito saltaram, especialmente os de títulos emitidos por empresas de ratings mais baixos.

Na avaliação do FMI, a volatilidade subiu para níveis vistos pela última vez na crise financeira global, em meio às incertezas relacionadas ao impacto da pandemia. Com o salto da volatilidade, a liquidez também se deteriorou significativamente. Até mesmo mercados tradicionalmente vistos como altamente líquidos, como os Treasuries americanos enfrentaram problemas.

Como resposta às pressões nos mercados de bônus corporativos, vários bancos centrais, incluindo o Federal Reserve (Fed, o BC americano), o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ) relançaram linhas emergenciais, criaram novas facilidades e expandiram os programas existentes para dar suporte às emissões e à liquidez aos mercados de dívida corporativa e títulos comerciais.

Com o aumento da aversão aos ativos de risco, os mercados emergentes sofreram saques recordes de recursos de portfólio por parte de investidores estrangeiros, aponta o FMI. Segundo o órgão, desde 21 de janeiro, o fluxo para grupo de países está negativo em mais de US$ 100 bilhões, o maior já registrado em um período curto. A saída de investimentos em carteira representa, segundo cálculos do fundo, 0,4% do PIB agregado dos emergentes observado no primeiro trimestre de 2020.

O FMI classifica as condições atuais como uma “tempestade perfeita” atingindo os emergentes. Trata-se de “uma combinação sem precedentes de choques externos, que incluem a pandemia de covid-19, o declínio dos preços do petróleo, a crescente aversão ao risco e a perspectiva de uma recessão global”.

De acordo com o relatório, os preços das ações de emergentes caíram cerca de 20% líquidos desde janeiro, apesar de um repique recente. As moedas também apresentam depreciação acentuada. As divisas de países exportadores de commodities, como Brasil, Colômbia, México, Rússia e África do Sul, recuaram mais de 20% contra o dólar no primeiro trimestre de 2020.

Os bônus soberanos dos emergentes denominados em dólar abriram muito com spreads em média perto de 700 pontos-base no fim de março, no maior nível desde a crise de 2008. Os países do grupo com economia mais frágil já enfrentam custos de financiamento acima de 1.000 pontos-base e se aproximam de níveis recordes.

O órgão internacional avalia ainda que o agudo aperto das condições financeiras globais após o início da pandemia junto como uma “dramática deterioração do cenário econômico têm mudado maciçamente a perspectiva de um ano de um crescimento global para uma recessão”. Para o FMI, os riscos de uma recessão global severa aumentaram muito após a pandemia.

“Há agora uma probabilidade de 5% que ocorrer uma queda abaixo de 7,4%.” Segundo o órgão esse nível de probabilidade é “um evento que acontece uma vez a cada 20 anos”. O fundo lembra que, para efeito de comparação, em outubro do ano passado a previsão era de um crescimento global de 2,6% neste ano.

O mundo tem de estar preparado para um cenário ainda mais difícil em relação aos efeitos da pandemia, alerta o FMI. Conforme o organismo, a disseminação da covid- 19 pode exigir imposição de medidas mais longas e duras de contenção. Em um momento de piora das condições, o choque da pandemia seria exacerbado. Na medida em que as empresas sejam afetadas pela recessão, as taxas de defaults podem subir e o mercado de crédito enfrentar uma parada súbita, alerta o relatório.

“A crise não é apenas sobre liquidez”, pondera a organização. Para o FMI, “é primariamente sobre solvência—em um momento no qual grandes segmentos da economia global tem parado completamente”. Nesse cenário, “a política fiscal tem um papel vital a desempenhar”. Segundo o relatório, “juntas as políticas monetária, fiscal e financeira devem ter como meta amortecer o impacto do choque da covid-19 e assegurar uma recuperação estável e sustentável, uma vez que a pandemia esteja sob controle”.

O próprio FMI diz estar pronto para apoiar os países mais vulneráveis com todo o peso de seus recursos. O diretor Tobias Adrian explica que o fundo tem atualmente US$ 1 trilhão em capacidade de empréstimos, mas tem trabalhado para ampliar esse balanço, bem como na criação de novos tipos de programas.

O dirigente diz que o fundo já recebeu, após o início da pandemia, pedidos de financiamentos emergenciais de mais de 90 países membros, ou seja, quase a metade dos integrantes do organismo internacional.

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