quarta-feira, 29 de abril de 2020

Robôs na linha de frente(Valor, 29 04 2020)


Robôs entram na linha de frente no sistema público


Automação - Canais do TeleSUS atenderam mais de 5,7 milhões de pessoas
Quarta-feira, 29 de Abril de 2020Martha Funke Para o Valor, de São Paulo
"Alô, aqui é do Ministério da Saúde..." Essa ligação, que muitos brasileiros já receberam pelo celular, ilustra o uso mais intenso da automação na saúde neste momento de crise, com recursos que incluem desde a liberação controlada da telemedicina até o lançamento do TeleSUS pelo ministério, com iniciativas como Disque Saúde 136, o aplicativo Coronavírus SUS, chat on-line via website e Busca Ativa e monitoramento telefônico robotizado, que prevê contato com 125 milhões de brasileiros.

Até o último dia 14, mais de 5,7 milhões de pessoas já haviam buscado os serviços TeleSUS, com operação de atendimento a cargo da Top Med, empresa do grupo Benner da área de tele saúde e telemedicina. Do total, 2,4 milhões foram avaliadas sobre sintomas de coronavírus. O serviço de Busca Ativa soma mais de 2,2 milhões de ligações. Os diferentes canais já encaminharam mais de 78 mil pessoas ao teleatendimento pré-clínico, com acompanhamento posterior ou sugestão de procura de atendimento físico.

A aposta em tecnologia no SUS inclui iniciativas como o emprego de nuvem. A responsável é a Embratel. Os dados da rede pública de saúde do departamento de informática do SUS (DataSUS) serão disponibilizados na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), projeto do programa de digitalização de informações de saúde no Brasil, o Conecte SUS. A segurança do tráfego de dados é garantida via blockchain.

Os robôs conversacionais são um dos recursos para enriquecer o sistema de saúde. A Teledoc, multinacional da telemedicina que atende empresas de saúde no Brasil desde 2018, adotou bot para Whatsapp criado pela Wavy para apoiar consultas virtuais. Na outra ponta estão robôs para tarefas mais pesadas, de cirurgias a higienização de áreas infectadas, entrega de alimentos e remédios, até interação social. Alguns, como os de limpeza, ainda não são empregados no Brasil. Outros ficam no meio do caminho, como os cobots, autômatos que trabalham em conjunto com humanos com ganhos em segurança, flexibilidade e facilidade de instalação, explica Denis Pineda, gerente regional da Universal Robots na América Latina. Na área da saúde, por exemplo, dois modelos da marca respondem pelo abastecimento e desabastecimento de centrífugas de sangue no Genofte Hospital, em Copenhagen.

A área cirúrgica é a mais madura. Seus robôs chegaram aqui em 2000. São 74 em funcionamento, responsáveis por 13 mil operações em 2019 e 7 mil em 2018. A líder do mercado é a Intuitive, cujos autômatos são craques em capacidades como filtros de tremor e câmeras para visão 3D das entranhas do paciente. Para o doutor Carlos Eduardo Domene, presidente da Sobracil, entidade que congrega o setor, a chave são os softwares, que fazem a ligação entre a mão do cirurgião e o dispositivo no corpo do paciente. Os algoritmos estão por trás de sistemas para gestão hospitalar, de estudos para avaliação de epidemiologias e, claro, dos robôs.

O Hospital das Clínicas, em São Paulo, está empregando três robôs da Pluginbot para teletriagem, reduzindo o contato com a equipe de recepção; pré-atendimento no leito, reduzindo o emprego e descarte de dispositivos de segurança (EPIs) para questionar a necessidades dos pacientes ao acionarem chamados; e, em breve, colocar o paciente confinado em contato virtual com os familiares.

A novidade foi fornecida sem custo nos três primeiros meses, segundo Lilian Arai, responsável pelo projeto na instituição. Em março, o HC criou 900 leitos exclusivos para covid-19, 200 deles de UTI, que no dia 14 de abril contava com 77% de ocupação.

Robô semelhante surgiu na 3DSoft, startup da equipe de pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos (SP). Liderado pelo professor Fernando Osório, o grupo especialista em robôs móveis decidiu inventar equipamento para colaborar na crise atual e reduzir o contato entre profissionais e infectados. Em dois meses o protótipo ficou pronto, ainda em teleoperação, mas com autonomia já testada em ambiente de simulação.

Segundo a doutoranda Daniela Rideli, sócia da 3DSoft, a ideia era entregar medicamentos e refeições no leito, mas o Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) sugeriu adaptação para telepresença. Só que falta patrocínio para colocar o robô em pé, literalmente. No ano passado, a equipe do ICMC ficou em primeiro lugar em três das quatro categorias da Carla, maior desafio mundial na área de veículos autônomos, mas levou para casa só US$ 17,5 mil. Agora aguarda resultado de programa de apoio da Vale. "Falta mentalidade empreendedora no pessoal de computação", diz Daniela.

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