quinta-feira, 16 de abril de 2020

FMI: liquidez em dólares para países emergentes(Valor, 16 4 2020)

FMI terá linha de liquidez em dólares para países emergentes

Quinta-feira, 16 de Abril de 2020 - 00:00

Assis Moreira De Genebra
O Fundo Monetário Internacional (FMI) acabou decidindo ontem pela criação de uma linha emergencial de crédito para injetar liquidez em dólares para emergentes na atual crise, ao mesmo tempo em que rejeitou alocação adicional de Direitos Especiais de Saque (DES), a moeda escritural da instituição.

Os países aprovaram a ampliação do uso do programa conhecido como “Short-term Liquidity Line” (SLL) para ajudar países com escassez de dólares. Embora configurado para tempos normais, a linha deverá apoiar países com fortes fundamentos e políticas na atual crise, como reforço para necessidades de balanço de pagamentos.

Um país poderá obter o equivalente a até 145% de sua quota no FMI, por um período de 12 meses, que pode ser renovado depois por mais 12 meses.

Assim, emergentes que não obtiveram linhas de swap junto ao Federal Reserve (Fed) poderão usar esse programa do Fundo. Um deles certamente poderá ser a Argentina. O Brasil tem swap com o Fed, o BC americano.Vários países, inclusive no G20, queriam assegurar um acesso a liquidez em dólar, do qual a demanda aumentou muito na crise provocada pela covid-19.

A segunda proposta do FMI, de injetar US$ 500 bilhões na economia global por meio da expansão de Direitos Especiais de Saque (DES), não passou. Os EUA apareceram como os únicos contrários à medida. Mas observadores estimam que alguns países europeus também não estavam entusiasmados, porém ficaram calados, deixando os americanos aparecer na linha de frente. A posição de Washington é de privilegiar emissões em dólar.

O DES é um ativo internacional emitido pelo FMI, pelo qual atua na prática como uma espécie de banco central do mundo. Fornece a cada país membro um ativo de reserva internacional gratuito e incondicional dentro dos limites de cotas que cada país tem. Faz parte das reservas de divisas dos países e pode ser vendido ou usado para pagamento a outros BCs. O SLL vai ser confirmado nesta quinta-feira pelo conselho de governadores do FMI. E a discussão sobre o DES voltará à mesa em algum momento.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, em discurso em reunião virtual do Comitê Monetário e de Finanças do FMI, na terça-feira, defendeu as duas medidas. Para o representante brasileiro, o SLL “proporcionará liquidez aos países membros com políticas fortes para enfrentar choques de alta frequência e tamanho moderado”.

Guedes destacou que as economias em desenvolvimento enfrentam uma saída de capital sem precedentes. Ele notou que alguns emergentes têm amplos estoques de reservas internacionais e acesso a linhas internacionais de swap que os ajudam a lidar com essas saídas de capital. Mas que a extraordinária natureza do choque atual eleva os desafios a níveis recordes para essas economias, pela escassez de recursos fiscais, reversão de fluxo de capital e queda de preços de commodities.

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