VIVI PARA CONTAR - 'ESTOU VIVENDO MINHA TERCEIRA QUARENTENA'
Sexta-feira, 10 de Abril de 2020 - 09:54
Adrielly Eger, em depoimento a Gabriela Oliva
Adrielly Eger, de 18 anos, estava em Wuhan na eclosão da epidemia, foi enviada para isolamento na base de Anápolis, Goiás, em fevereiro, e agora está recolhida em sua casa, em Santa Catarina
Comecei minha carreira de modelo aos 16 anos. Em busca de oportunidades de trabalho, viajei de minha cidade natal, Foz do Iguaçu, para São Paulo. Em novembro do ano passado, fui sozinha para Wuhan, na China, no que seria meu primeiro contrato internacional.
Na chegada, tudo foi encantador. Conheci um pouco da cultura chinesa e pude trabalhar. Até o fechamento da cidade, eu dividia o apartamento com sete modelos. Depois, somente uma continuou morando comigo, a paraguaia Melany Umann (que também foi repatriada). Nas ruas, ouvia as pessoas falarem de um novo vírus que estava se espalhando rápido, mas só comecei a perceber a gravidade da situação quando vi todos a meu redor usando máscaras. Soube mais tarde que minha casa estava localizada onde consideravam ser o marco zero da doença. Eu estava com uma viagem marcada para o Vietnã, onde daria início a um novo contrato, mas assim que decretaram a quarentena fiquei presa na cidade que até então era o epicentro do novo coronavírus. A partir desse dia, vi um lugar cheio de vida se tornar um deserto.
Fiquei angustiada. Por intermédio de um amigo, entrei em um grupo de conversa de brasileiros em um aplicativo local da China. Durante as duas semanas de quarentena, começamos a nos conhecer e a tentar um movimento de repatriação. Mas as coisas não eram tão simples, porque ninguém tinha real noção do que estava acontecendo e da gravidade da situação. Juntos escrevemos uma carta e gravamos um vídeo pedindo o resgate. Em poucas horas, recebemos um contato do Itamaraty com a notícia de que seríamos repatriados. O alívio e a alegria foram imediatos, porque meu estoque de comida estava quase no fim!
Quando entrei no avião e ouvi um dos tripulantes dizer “Bem-vinda de volta ao Brasil”, eu me emocionei. Era como se eu já estivesse em casa. A aeronave estava dividida em três partes. Fiquei na área considerada “zona quente”, totalmente isolada, onde os profissionais não podiam entrar sem equipamentos. Duas aeronaves foram utilizadas no processo de volta para o Brasil. O trajeto foi longo. Paramos em em Urumqi, na China; em Varsóvia, na Polônia; nas Ilhas Canárias, na Espanha; e finalmente no Brasil, fazendo uma conexão em Fortaleza até chegar a Goiás, onde passei 14 dias de quarentena na base aérea de Anápolis. O período foi de muita ansiedade. A aflição para rever meus familiares era grande. No entanto, eu sabia que tudo aquilo era necessário para o bem comunitário. Na base, eu fazia de tudo, inclusive ter contato com outras pessoas, porém usando máscaras. Além de seis refeições diárias, tínhamos também apoio psicológico.
Quando a segunda quarentena terminou, voltei para Piçarras, balneário onde vive minha família, em Santa Catarina. Senti emoção e alívio por estar junto deles depois de tanto isolamento. Em Wuhan, foi assustador. Eu não sabia como lidar com o medo da doença. Na segunda quarentena, em Anápolis, o único problema era segurar a ansiedade. Agora, na terceira, com minha família, sinto uma grande incerteza, uma sensação de instabilidade.
Aqui, no Brasil, muitas pessoas ainda desrespeitam o isolamento e não se preocupam com as prevenções. As coisas são mais “relaxadas” e vejo uma falta de seriedade. Em Wuhan era diferente. Na entrada de supermercados, faziam medição da temperatura e todos eram obrigados a usar máscaras e luvas. No Brasil, não vejo essa mesma preocupação com a higiene, o que com certeza interfere nos cuidados com a pandemia. Por isso, enquanto as coisas não melhoram, tento seguir aqui as mesmas recomendações da China. Ficar tanto tempo isolada me deixou cansada e ansiosa, mas sei que todas essas medidas são necessárias para que a gente possa vencer o vírus.
Comecei minha carreira de modelo aos 16 anos. Em busca de oportunidades de trabalho, viajei de minha cidade natal, Foz do Iguaçu, para São Paulo. Em novembro do ano passado, fui sozinha para Wuhan, na China, no que seria meu primeiro contrato internacional.
Na chegada, tudo foi encantador. Conheci um pouco da cultura chinesa e pude trabalhar. Até o fechamento da cidade, eu dividia o apartamento com sete modelos. Depois, somente uma continuou morando comigo, a paraguaia Melany Umann (que também foi repatriada). Nas ruas, ouvia as pessoas falarem de um novo vírus que estava se espalhando rápido, mas só comecei a perceber a gravidade da situação quando vi todos a meu redor usando máscaras. Soube mais tarde que minha casa estava localizada onde consideravam ser o marco zero da doença. Eu estava com uma viagem marcada para o Vietnã, onde daria início a um novo contrato, mas assim que decretaram a quarentena fiquei presa na cidade que até então era o epicentro do novo coronavírus. A partir desse dia, vi um lugar cheio de vida se tornar um deserto.
Fiquei angustiada. Por intermédio de um amigo, entrei em um grupo de conversa de brasileiros em um aplicativo local da China. Durante as duas semanas de quarentena, começamos a nos conhecer e a tentar um movimento de repatriação. Mas as coisas não eram tão simples, porque ninguém tinha real noção do que estava acontecendo e da gravidade da situação. Juntos escrevemos uma carta e gravamos um vídeo pedindo o resgate. Em poucas horas, recebemos um contato do Itamaraty com a notícia de que seríamos repatriados. O alívio e a alegria foram imediatos, porque meu estoque de comida estava quase no fim!
Quando entrei no avião e ouvi um dos tripulantes dizer “Bem-vinda de volta ao Brasil”, eu me emocionei. Era como se eu já estivesse em casa. A aeronave estava dividida em três partes. Fiquei na área considerada “zona quente”, totalmente isolada, onde os profissionais não podiam entrar sem equipamentos. Duas aeronaves foram utilizadas no processo de volta para o Brasil. O trajeto foi longo. Paramos em em Urumqi, na China; em Varsóvia, na Polônia; nas Ilhas Canárias, na Espanha; e finalmente no Brasil, fazendo uma conexão em Fortaleza até chegar a Goiás, onde passei 14 dias de quarentena na base aérea de Anápolis. O período foi de muita ansiedade. A aflição para rever meus familiares era grande. No entanto, eu sabia que tudo aquilo era necessário para o bem comunitário. Na base, eu fazia de tudo, inclusive ter contato com outras pessoas, porém usando máscaras. Além de seis refeições diárias, tínhamos também apoio psicológico.
Quando a segunda quarentena terminou, voltei para Piçarras, balneário onde vive minha família, em Santa Catarina. Senti emoção e alívio por estar junto deles depois de tanto isolamento. Em Wuhan, foi assustador. Eu não sabia como lidar com o medo da doença. Na segunda quarentena, em Anápolis, o único problema era segurar a ansiedade. Agora, na terceira, com minha família, sinto uma grande incerteza, uma sensação de instabilidade.
Aqui, no Brasil, muitas pessoas ainda desrespeitam o isolamento e não se preocupam com as prevenções. As coisas são mais “relaxadas” e vejo uma falta de seriedade. Em Wuhan era diferente. Na entrada de supermercados, faziam medição da temperatura e todos eram obrigados a usar máscaras e luvas. No Brasil, não vejo essa mesma preocupação com a higiene, o que com certeza interfere nos cuidados com a pandemia. Por isso, enquanto as coisas não melhoram, tento seguir aqui as mesmas recomendações da China. Ficar tanto tempo isolada me deixou cansada e ansiosa, mas sei que todas essas medidas são necessárias para que a gente possa vencer o vírus.
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