Nascido há 90 anos, como Tom Jobim, Newton Mendonça tem obra imortal
Discos inéditos, reportagens retrospectivas nos cadernos culturais de grandes jornais e saudações em redes sociais lembraram os 90 anos de nascimento de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), justa e devidamente celebrados em 25 de janeiro desde ano de 2017. Também nascido há 90 anos, no domingo pré-carnavalesco de 14 de fevereiro de 1927, Newton Ferreira de Mendonça – ou simplesmente Newton Mendonça, como foi conhecido artisticamente na década de 1950 este compositor e pianista carioca – também merece todas as saudações pelos 90 anos que poderia estar completando hoje, 14 de fevereiro de 2017, se não tivesse saído precocemente de cena na noite de 22 de novembro de 1960, vítima de infarto, aos jovens 33 anos, quando estava no auge da criatividade.
Newton Mendonça foi um parceiro fundamental de Jobim, com quem compôs no segundo semestre de 1958 o dissonante samba que é carta de intenções da Bossa Nova – Desafinado (gravado ainda em 1958, mas lançado em disco em fevereiro de 1959) – e também o igualmente antológico Samba de uma nota só, lançado em 1960, ano da morte de Newton, mas esboçado desde 1954. Juntos, os parceiros fizeram um terceiro standard de alcance mundial, Meditação, lançado em 1959 em gravação da cantora Isaura Garcia (1919 – 1993).
Intérprete da gravação original de Desafinado, João Gilberto, o papa da Bossa, sabia da importância de Newton Mendonça. Jobim também valorizava a musicalidade do parceiro com quem compunha música e letra em pé de igualdade – musicalidade que Mendonça exibia quando, além do piano, também tocava violino, flauta e gaita. Por isso mesmo, nota desafinada da vida foi relegando Newton Mendonça a injusto e progressivo esquecimento. Houve uma biografia em 2001 – intitulada Caminhos cruzados, nome de outro clássico da parceria do compositor com Jobim, canção lançada em 1958 – e houve um ou outro tributo em disco ou artigo de jornal. Muito pouco para a dimensão da obra do compositor!
Pairou sempre a equivocada impressão de que Newton Mendonça foi um parceiro de Jobim menos importante do que o também fundamental Vinicius de Moraes (1913 – 1980) ou mesmo Chico Buarque. Uma injustiça, até pelo fato de Jobim ter começado a carreira de compositor ao lado de Mendonça quando os caminhos profissionais dos dois músicos se cruzaram em 1952 na boate carioca Posto Cinco. Em 1953, uma primeira parceria da afinada dupla, Incerteza, já chegou ao disco. Seguiram-se Teu castigo (gravada em 1955, mas lançada em 1956 na voz de Dalva de Oliveira), Foi a noite (1956, na voz da antenada Sylvia Telles) e Luar e batucada (1956, samba mais tradicional, também lançado por Sylvia Telles, também a intérprete original de Discussão em 1959), entre outras músicas.
Enfim, Newton Mendonça foi grande. Talvez tivesse até se tornado um gigante como Jobim se não tivesse saído de cena tão cedo, no auge do sucesso da parceria com o amigo. Afinal, o próprio Jobim, que inicialmente era somente compositor e músico, virou cantor a partir de 1963. Newton Mendonça não teve tempo para isso. Talvez fosse realmente desafinado para cantar até o samba histórico que fez com Jobim. Mas o fato é que, mesmo que a notória introspecção tenha dificultado a projeção do artista na década de 1950, Newton Mendonça jamais poderia ter permanecido à sombra de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Com Tom e como Vinicius, ele também construiu obra moderna e revolucionária que pôs o Brasil definitivamente no mapa múndi musical. Pois viva hoje e sempre Newton Mendonça, imortal compositor nascido há exatos 90 anos!
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