sábado, 30 de setembro de 2017

Bancos inovam sob influência das fintechs (Valor)

Sexta-feira, 29 de setembro de 2017         05:37
Valor Econômico | SUPLEMENTO - NEGÓCIOS CONECTADOS
     
Bancos inovam sob influência das fintechs 
Ana Lúcia Moura Fé | Para o Valor, de São Paulo
Para absorver o impacto das fintechs, o setor financeiro deve atualizar infraestruturas e usar sistemas baseados em nuvem ou de código aberto já usados pelas startups. Precisam adotar a natureza disruptiva das emergentes e responder às demandas dos clientes por serviços inovadores. Essa conclusão é da PwC em relatório global sobre a influência das fintechs.
O estudo aponta que a concorrência preocupa a maioria das instituições. Quase 90% acreditam que parte de seus negócios corre risco diante das startups. Cerca de 30% dos consumidores vão aumentar o uso de fintechs e só 39% planejam continuar apenas com bancos convencionais.
Novos negócios fundados na nuvem têm processos e lançamentos de serviços mais ágeis, menos custos e proporcionam experiência renovada para clientes cada vez mais familiarizados com o mundo digital. "Sob a ótica de lançamento de produtos e operações, muitas startups nem existiriam caso não utilizassem cloud", diz Augusto Lins, diretor de relações institucionais da Stone, startup adquirente de cartão de crédito com autorização da Visa e da Mastercard para realizar transações.
Financeiramente vantajosa, a nuvem, com sua elasticidade, permite que a capacidade do sistema acompanhe o crescimento acelerado do negócio, diz Lins. "Além disso, fintechs têm cultura de open source, e a nuvem facilita troca de dados e desenvolvimento de APIs".
Para Edward Wible, CTO do Nubank, estava tudo muito confortável para o setor, mas agora ocorre uma reação em cadeia, com instituições agilizando processos e se reorganizando. "É saudável para todo mundo", diz o executivo da startup que tem inspirado vários bancos a lançar contas digitais nos mesmos moldes de sua solução - um cartão de crédito sem anuidade e com benefícios como taxas reduzidas e organização de gastos do cliente no smartphone. Quase 100% das cargas de trabalho do Nubank estão na cloud da AWS. Para Wible, o maior diferencial trazido pela nuvem é a geração de uma cultura colaborativa e empática na empresa.
O modelo facilita o preenchimento de lacunas na prestação de serviços, segundo Patrick Negri, CEO da iugu, plataforma abrigada na AWS que automatiza processos como pagamentos e antecipação de recebíveis e conciliação financeira. "Grandes instituições não têm esse serviço por falta de agilidade", diz o CEO da startup que deve movimentar este ano em torno R$ 1,5 bilhão e gerar cerca de R$ 10 milhões de receitas.
Para Rafael Ribeiro, diretor executivo da ABStartups, começa agora uma curva de amadurecimento do ecossistema de fintechs, com novas tecnologias surgindo, casos de sucesso, bancos inovando internamente, selando parcerias, comprando fintechs ou criando aceleradores para startups. "Quando vemos uma empresa como o Itaú com aplicativo superevoluído, que com certeza está na nuvem, fica evidente que a velocidade das startups pressionou o setor a ser diferente", afirma.
André Nazareth, gerente de desenvolvimento de startups da AWS, ressalta que bancos usufruem cada vez mais das vantagens da cloud. Ele diz que cresce o número dos que, em sua jornada de transformação, buscam confidencialmente a prestadora para experimentar o modelo. Entre os que partiram na frente, cita o Inter, banco com 23 anos de atuação que criou conta digital com acesso via nuvem da AWS. "Esse banco planeja migrar a operação inteira para AWS ainda este ano", diz.
Para Edson Silva, presidente do Grupo Nexxera, pioneiro no uso de nuvem que criou ecossistema entre bancos e seus clientes para transações de compra, recebimento e pagamento, não há dúvida de que o setor quer participar do ambiente heterogêneo e de múltiplos serviços representado pela nuvem e pelas fintechs. "Mas trata-se de ruptura cultural grande, por isso vai agir com cautela, preservando o core", diz.
O estudo da PwC revela que as instituições já abraçam o modelo Fintech não apenas quanto à tecnologia, mas também quanto a cultura, formas de trabalhar, resolução de problemas, engajamento de clientes e novas ideias de liderança. Globalmente, 77% das pesquisadas aumentarão esforços internos de inovação nos próximos três a cinco anos. Elas também estão comprando mais serviços das startups.


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