sexta-feira,
29 de setembro de 2017 03:34
CELSO MING: O
mantra do cambio
Anos a fio, a
queixa recorrente dos empresários é a de que o dólar no Brasil está barato
demais (em reais) e que essa valorização da moeda nacional sepulta a competitividade
do setor produtivo. E reivindicam forte desvalorização do real, “para
estancar a de-sindustrialização”.
O pessoal da Fiesp
e da indústria de máquinas não diz outra coisa. Nesta quarta-feira, por
exemplo, o representante da indústria têxtil, Fernando Pimentel, repetiu essa
queixa.
Boa parte do setor
produtivo nacional não é competitiva, ou seja, não consegue enfrentar nem
a concorrência do produto importado nem a competição no mercado externo. É uma
situação que, em princípio, apenas em parte tem a ver com o Câmbio.
A falta de
competitividade se deve a grande número de outros fatores: o custo Brasil muito
mais alto do que em grandes países do exterior, a precariedade
da infraestrutura, o excesso de proteção que deixa o setor
mal-acostumado, a demasiada burocracia que emperra os negócios, o alto custo do
capital, Juros altos demais, o baixo nível de educação e
treinamento da mão de obra... e por aí vai.
Um jeito de
compensar esse jogo contra é promover a desvalorização da moeda, recurso que
barateia em dólares apro-dução local e encarece o produto importado. O problema
é que nem sempre é possível promover essa desvalorização.
O Câmbio é
um dos preços da moeda (o outro são os Juros) e, nesta
condição, está sujeito à lei da oferta e da procura. Uma das funções
de qualquer Banco Central é intervir para regular esse jogo
ao nível pretendido pela política econômica. Quando é preciso agir para
valorizar a moeda nacional, o Banco Central aumenta ou permite que
aumente a oferta de moeda estrangeira no mercado, o dólar fica mais
barato em reais; quando decide desvalorizar, aumenta a procura por
dólares, pela compra no Câmbio interno ou por permitir que se tome
mais escasso.
O atual regime de Câmbio
no Brasil é o de flutuação suja. Nele, as cotações são determinadas pela
oferta e procura, mas com alguma intervenção a fim de eliminar grandes
oscilações. Neste momento em que as contas externas estão em excelente
condição e a entrada de investimentos corresponde a quase três vezes odéfi-cit
dos demais pagamentos, é inevitável que o País tenha de conviver com a
oferta folgada de dólares.
Empresários e
muitos economistas que os assessoram pregam mais intervenção. Querem que o Banco
Central compre mais moeda estrangeira ou coíba a entrada de capital,
por meio de medidas administrativas ou de impostos.
Mas aí há dois
problemas. Primeiro, a compra de dólares pelo Banco Central exige
emissão de reais, o que é inflacionário, ou aumento de dívida pública, já
alta demais. O outro problema é o de que o mercado global está inundado
de dólares, variável fora do controle do Banco Central. Assim,boa parcela
desses recursos continuará desembarcando no Brasil para negócios, aumentando a
oferta de moeda estrangeira.
Quanto mais
saudável a economia, maior o afluxo de moeda estrangeira, situação que tende a
manter o Câmbio relativamente valorizado. Paradoxalmente, a maneira
mais fácil de provocar maior procura de dólares é deixar que a
crise derrube a economia.
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