Autor: Sergio Lamucci e Catherine Vieira
04/09/2017
A parcela do
investimento financiada por empréstimos do BNDES encolheu ao menor nível desde
pelo menos 2004 nos quatro trimestres encerrados em junho, ao mesmo tempo em
que aumentou a fatia bancada com recursos de investidores estrangeiros. Nesse
período, a formação bruta de capital fixo (FBCF) ficou em 14% do PIB, dos quais apenas 0,8% do PIB, ou 5,5% do total, foram financiados com
dinheiro do banco de fomento, aponta levantamento do Centro de Estudos do
Mercado de Capitais (Cemec), do Instituto Ibmec. Os números do Cemec não
incluem o investimento das administrações públicas e a variação de estoques.
Em 2014, o investimento
com recursos do BNDES foi de 2,6% do PIB,
ou 15,2% do total da FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos,
construção civil e inovação. O pico da participação do banco foi em 2009,
quando o BNDES respondeu por 18% da FBCF.
Diretor do Cemec,
Carlos Antonio Rocca avalia que o tombo da participação do BNDES se deve mais à
queda na demanda por empréstimos do banco, num cenário de grande ociosidade na
economia. Além disso, houve também um recuo na oferta de financiamentos a taxas
muito subsidiadas, abaixo da inflação, segundo ele. "Acabou o dinheiro do
Tesouro", diz Rocca, numa referência aos repasses do governo ao banco de
fomento realizados entre 2009 e 2014, nas gestões dos ex-presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Já o investimento
direto estrangeiro no país, aquele voltado para atividades produtivas,
respondeu por 29,1% da formação bruta nos quatro trimestres até junho. Em 2014,
a fatia era de 23,3%; em 2009, ficou em apenas 11,3% do total.
Além disso, o
financiamento internacional por meio da emissão de notas e obtenção de
empréstimos externos respondeu por 7,8% do investimento de empresas e famílias.
A maior parcela da FBCF é financiada com recursos próprios, como os lucros
retidos das empresas, respondendo por 43,5% do total. Em 2014, essa fatia era
de 37,4%. Para estimar a composição do financiamento da FBCF, Rocca leva em
conta apenas operações de longo prazo.
O economista
ressalta que o investimento está num nível baixíssimo, que "mal cobre a
depreciação" do estoque de capital fixo. "Não há crescimento
sustentável com uma taxa de investimento dessas", afirma ele, também sócio
da consultoria Rocca, Eliseu, Prandini & Associados. Nas estimativas do
economista, a correlação entre a variação anual do Produto
Interno Bruto (PIB) e a
FBCF é enorme, chegando quase a 1 - fica em 0,97, mais exatamente, numa série
que se inicia em 2004. Segundo ele, nenhum outro componente da demanda tem uma
correlação tão forte com o PIB.
Na visão de Rocca,
a recuperação do investimento terá de vir pela infraestrutura, o setor em que
não há problemas de insuficiência de demanda nem de excesso de oferta - pelo
contrário. Para que isso se concretize, ele diz que é fundamental que haja um
ambiente regulatório e jurídico que dê mais segurança ao investidor, além de
projetos-executivos de qualidade, para que as obras ocorram dentro do orçamento
previsto e saiam no prazo planejado.
Segundo Rocca, a
enorme capacidade ociosa das empresas contribui para o tombo do investimento,
assim como o fato de que em muitas companhias as taxas de retorno ainda estão
abaixo do custo de capital. Outro ponto é que há incertezas em relação ao
crescimento, o que afeta a decisão de investir do setor privado.
Rocca observa que,
no estudo, a parte da FBCF financiada pelo investimento estrangeiro pode estar
superestimada. O ponto é que não há diferenciação entre o que é investido em
projetos novos e o que é aquisição de ativos já existentes, aqueles que não
ampliam a capacidade produtiva. Com isso, é possível que a parte bancada com
recursos próprios, calculada por diferença, seja maior do que a estimada no
estudo. Ainda assim, a compra de um ativo indica a disposição de investir mais
à frente, dado o horizonte de longo prazo das operações.
O economista
reitera a importância da recuperação da formação bruta de capital fixo para que
haja uma melhora sustentável da atividade econômica. "Uma retomada mais
consistente do crescimento depende do investimento", frisa ele, notando
que a virada da FBCF não virá do setor público, dada a situação das contas
públicas. O impulso terá que vir do setor privado, e o caminho mais promissor é
o da infraestrutura.
Nas contas
nacionais, o investimento no segundo trimestre recuou 0,7% em relação ao
trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. Foi a 14ª queda em 15 trimestres.
Para ter uma ideia do tamanho do tombo, a FBCF recuou 29,7% na comparação com o
nível observado no terceiro trimestre de 2013.
Ao comentar a alta
do consumo das famílias, que no segundo trimestre cresceu 1,4% em relação aos
três meses anteriores, Rocca apontou os fatores que, para ele, sustentaram o
movimento. O primeiro é a forte queda da inflação, que abre espaço para ganhos
reais de renda. O outro foi a injeção de recursos na economia possibilitada
pelos saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS), que totalizaram cerca de R$ 44 bilhões.
Além disso, há o
efeito multiplicador da renda agrícola e das exportações, que têm crescido com
força. Para completar, os Juros estão
em trajetória de baixa. Tudo isso deu impulso ao consumo. O crescimento
sustentável no longo prazo, contudo, precisa da recuperação do investimento,
diz Rocca.
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