Sexta-feira, 15 de setembro de 2017 03:05:58
Nelson Barbosa: Taxa de juro, rentabilidade e credibilidade
A taxa Selic deve cair para
7,25% anuais no fim deste ano. Apesar dessa redução, o pagamento de Juros
reais pelo governo aumentou significativamente desde o final de 2015. Para
explicar como isso aconteceu, é preciso relembrar dois conceitos de taxa de
juro real utilizados em economia.
A taxa esperada é
a taxa de juro projetada para o futuro, descontada pela expectativa de inflação
para o mesmo prazo. Essa é a variável mais relevante para o planejamento de
investidores e consumidores. Considerando o prazo de um ano, a taxa real
esperada caiu para aproximadamente 3% ao ano recentemente.
Como qualquer
projeção, a taxa esperada pode ou não se verificar.
A taxa efetiva é a
taxa de juro praticada no passado, descontada pela inflação do mesmo período.
Essa é a variável mais relevante para a distribuição de renda, pois representa
o quanto um devedor pagou ao seu credor em termos reais.
A taxa real
efetiva subiu para aproximadamente 9% anuais recentemente, pois a inflação caiu
mais rápido do que a Selic nos últimos meses.
A evolução dessas
duas taxas pode ser consultada no "Monitor de Taxas de Juros",
do Grupo de Economia Política da UnB, que também inclui uma contabilidade dos Juros
pagos pelo governo. Por limite de espaço, apresentarei somente esse último
ponto.
Quando excluímos o
resultado dos swaps cambiais da conta, os Juros líquidos pagos pelo
setor público atingiram 7% do PIB nos últimos 12 meses. Esse total pode
ser dividido em três componentes.
Primeiro, parte do
pagamento de Juros representa o "custo de carteira" do
governo, isto é, o fato de o governo emitir títulos e adquirir ativos com uma
taxa de remuneração diferente da taxa básica de juro.
No Brasil, esse
custo decorre principalmente da acumulação de ativos com rendimento inferior à Selic,
como reservas internacionais e empréstimos ao BNDES. Do pagamento total de 7%
do PIB mencionado acima, 2,2% do PIB deve-se ao custo de
carteira.
Segundo, parte dos
Juros pagos pelo setor público apenas repõe a variação de preços. A
rápida redução da inflação fez com que a "correção monetária" sobre a
Dívida líquida fosse de apenas 1,1% do PIB nos últimos 12 meses
(o que é positivo).
Por fim, o
terceiro componente é o juro real sobre a Dívida líquida, que atingiu
3,7% do PIB nos últimos 12 meses. Esse valor representa uma elevação de
três pontos percentuais do PIB, ou R$ 192 bilhões com base no PIB
deste ano, em relação ao verificado em 2015.
O aumento dos Juros
reais pagos pelo governo indica que, pelo menos até agora, a melhora no
ambiente macroeconômico foi conquistada por um preço bem elevado. Na lógica de
curto prazo do mercado financeiro, é crível o que é rentável, mesmo que não
seja sustentável.
Hoje as
expectativas de mercado apontam para uma Selic de 8% ao ano no médio
prazo. Caso isso se confirme e a inflação fique na meta de 4% anuais, os Juros
reais pagos pelo governo cairão para 2% do PIB até 2019.
Será que o mercado
ficará satisfeito com a menor rentabilidade que ele mesmo projeta? Espero que
sim, e esse será um dos grandes testes da política econômica dos próximos anos.
Porém, caso a taxa
real efetiva não caia como esperado, a conclusão inevitável é que "aumento
de credibilidade" é apenas um nome fantasia para "aumento de
rentabilidade" sobre a dívida pública, ou seja, que o rentismo continua
firme e forte no Brasil.
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