Estado de São Paulo
7/9/17
Nos últimos dez dias, a
economia brindou a sociedade com um punhado de boas notícias
que deixaram a sensação de que a crise ficou para trás. São elas: certa
recuperação do PIB, exuberância nas contas externas, melhora da indústria,
disparada na produção de veículos, inflação abaixo da esperada e Juros
básicos (Selic) a 8,25% ao ano.
A hora é de conferir melhor
esse novo tombo da inflação em 12 meses (veja o gráfico), agora para 2,46%,
para o nível mais baixo desde fevereiro de 1999, e a decisão tomada pelo
Copom de derrubar os Juros em mais um ponto por-centual (veja a trajetória no
gráfico ao pé desta Coluna).
A evolução do IPCA de agosto,
divulgada nesta quarta-feira, chegou a surpreender. O mercado apostava em algo
ao redor de 0,40%, como a Pesquisa Focus do Banco Central apontou,
mas ficou em 0,19%.
A principal indicação não é o
número baixo, mas sua consistência. Não é resultado isolado de meia dúzia
de itens, como o dos alimentos. Ao contrário, a desaceleração está
espalhada e alcançou o setor de serviços. Desta vez, apenas 49% dos
itens da cesta de consumo apontaram alta de preços.
Setembro continua prometendo
números baixos, especialmente no segmento dos preços administrados, os
determinados pelo governo ou por empresas estatais, como tarifas de
energia elétrica, de telefone e de combustíveis.
O principal efeito positivo
dessa inflação em queda forte é a baixa corrosão do poder de compra do
trabalhador. O salário passou a render mais, já não prejudica o pagamento das
dívidas das famílias quanto prejudicava com a inflação a 10% ao ano.
E este é um dos fatores que explicam por que o desemprego ainda alto (de
12,8%) está sendo relativamente bem suportado.
Há duas perguntas em busca de
resposta. A primeira é quanto a inflação ainda pode cair, até chegar a seu
nível mais baixo. O espaço para queda já é menor. E, se for
confirmada a recuperação da atividade econômica e do consumo, é possível certo
retomoda alta. Por enquanto, os remarcadores de preços continuam pressionados
pelo risco de encalhe de mercadoria, caso cedam à tentação de
reajustes salgados demais. De todo modo, é mais provável que
a inflação de 2017 fique à altura dos 3,0%.
A segunda perguntaà procura
de resposta é o quanto esse espetacular recuo nos últimos 12 meses tem a ver
com queda estrutural e, portanto, reflete queda consistente, e não um resultado
circunstancial. Quanto a isso, não há certezas. Inflação baixa e na meta
é, antes de tudo, produto do equilíbrio das contas públicas. E estas
estão calamitosas, como sabemos. Pelo conteúdo do comunicado divulgado
nesta quarta-feira logo após a reunião do Copom, dá para aferir que o
Banco Central está se fazendo as mesmas perguntas formuladas acima.
O Copom só tem mais duas
reuniões neste ano. O comunicado avança que a Selic deverá fechar o ano
nos 7,45% e que, daqui para a frente, reduzirá a dosagem dos Juros.
Se a inflação de 2017 te rminar ao redor dos 3,0%, como mencionado acima,
uma Selic de 7,45% ao fim do ano ainda deixaria os Juros reais,
descontada a inflação, em 4,45%, número alto demais, especialmente
se a referência é uma inflação de 3,0%.
O horizonte do Banco Central,
também explicitado no comunicado, é o de que a Selic chegará ao fim de 2018
nos 7,5%. Isso sugere que a política monetária fará longa pausa ao longo
do ano que vem. O Banco Central não pode olhar apenas para 2017. Tem
de estender seus sensores para 2018, ano de eleições, portanto, de incertezas
que se somam à baixa vontade política para realizar reformas. Estas são as principais razões
pelas quais, lá pelas tantas, terá de tirar o pé do acelerador e dar
um tempo para os Juros, a fim de conferir melhor como ficam as
coisas.
@economia @Brasil
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