Segunda-feira, 18 de setembro
de 2017
Valor
Econômico | Finanças
Assis
Moreira | De Genebra
O Banco de
Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos Bancos Centrais,
aponta a existência de uma "dívida global oculta" que pode chegar a
US$ 14 trilhões, ao mesmo tempo em que diz não entender ainda como a inflação
continua baixa em meio a perspectivas melhores para a economia.
Os contratos de Swap
no mercado internacional de Câmbio e exposições relacionadas alcançam
US$ 58 trilhões, 90% denominados em dólar, dos quais entre US$ 13 trilhões e
US$ 14 trilhões estão nas mãos de entidades não bancárias fora dos Estados Unidos.
Em comparação, o PIB mundial é de US$ 75 trilhões e o comércio global,
de US$ 21 trilhões.
Pesquisa de três
economistas do banco conclui que essa dívida em dólar que está fora dos
balanços das entidades não bancárias pode superar os US$ 11,7 trilhões que
estão registrados nos livros contábeis, e chegar a US$ 14 trilhões. É um
passivo que tem que ser resolvido em algum momento e isso pode elevar os riscos
no sistema financeiro.
"Esse estudo
é o primeiro a dar uma estimativa da dívida em dólar que não figura nos
balanços, e fecha uma lacuna na nossa compreensão do risco de liquidez colocado
por entidades financeiras utilizando diferentes moedas", afirma Hyun Song
Shin, chefe de pesquisa do BIS.
Economistas do BIS
observam que um Swap de divisas se assemelha a outros instrumentos no
qual a parte que pega emprestada oferece garantia em "cash". Por
exemplo, bancos europeus obtêm fundos em dólar e dão como garantia outras
moedas, como o euro. As regras contábeis consideram que esses swaps de divisa não
são dívida, pois estão garantidos por outra moeda. Assim, o risco de crédito é
mínimo.
Porém, os
economistas do BIS veem um efetivo risco de liquidez como consequência da
defasagem entre os prazos de vencimento, como ficou claro quando os bancos
europeus tiveram que afrontar uma súbita e importante falta de liquidez em
dólar dos EUA em 2008. O estudo constata que os swaps são instrumentos de curto
prazo, inferior a um ano. Assim, remover as operações a curto prazo de ativos a
longo prazo pode amplificar problemas de financiamento e de liquidez em
períodos de tensão nos mercados internacionais.
Por outro lado, em
seu relatório trimestral sobre a atividade bancária internacional, o BIS alerta
também que a inflação baixa, apesar das melhores perspectivas para a economia
global, elevou a tomada de riscos nos mercados. Isso porque ela contribuiu para
a alta dos mercados nos últimos meses e reduziu o ritmo esperado da subida de Juros
nas grandes economias.
O banco aponta
sinais de maior tomada de risco em diferentes níveis, como a diminuição nos
rendimentos, o aumento das operações de "carry trade"' (arbitragem
entre Juros de diferentes economias) e as cláusulas menos estritas para
contratos de títulos de dívida.
Para Claudio
Borio, chefe do Departamento Monetário e Econômico do BIS, "tudo isso
torna ainda mais importante compreender as razões da ausência de inflação,
levando em conta que a inflação é o que guia as decisões dos Bancos Centrais".
Ainda segundo ele,
parece que estamos "Esperando Godot". "Por que a inflação permanece
obstinadamente baixa, apesar de várias economias se aproximarem ou superarem as
estimativas de pleno emprego e os Bancos Centrais tomaram medidas sem
precedentes para fazê-la subir?"
Para Borio, essa é
a pergunta de um trilhão de dólares que determinará a trilha da economia
mundial nos próximos anos e com toda probabilidade também o futuro das atuais
estruturas da política econômica. "O preocupante é que ninguém conhece
realmente a resposta."
Certo mesmo,
conforme o BIS, é que há muito tempo não era vista a expansão simultânea das
economias desenvolvidas e emergentes.
O aumento do risco
nos mercados estava previsto, estimulado também por outros fatores, como a
desvalorização do dólar, especialmente ante o euro (de 7% desde meados de
junho).
Nos emergentes, as
perspectivas também são positivas. As margens de lucros das empresas do bloco
têm aumentado. O mercado confia em expansão sólida da China. Os fluxos de
capital para os emergentes estão em alta. O estoque de crédito em dólar para
esses países, por exemplo, alcançou US$ 3,4 trilhões no fim de março.
O BIS constata
também que a política perdeu parte de sua influência sobre os mercados
financeiros. Não durou muito a agitação dos mercados causada por tensões na
Península Coreana e incertezas políticas nos EUA.
"Chama
atenção a escassa volatilidade dos mercados financeiros", destaca o banco
dos Bancos Centrais. O índice Move, que mede a volatilidade implícita no
mercados de título dos Tesouro dos EUA, registrou novas mínimas históricas. O
banco diz não entender inteiramente as causas dessa evolução, mas diz não haver
dúvidas de que o ritmo "inusitadamente gradual da normalização de política
monetária influiu em certo modo". E que outra razão pode ser a convicção
de investidores de que os Bancos Centrais não ficarão de braços cruzados
em caso de novas turbulências nos mercados.
Para o BIS, tudo
isso ilustra a grande dependência que os preços dos ativos parecem ter dos
baixíssmos rendimentos dos títulos de dívida. Ele nota que, embora os anúncios
de ganhos das empresas tenham sido positivos ultimamente, os preços de ações
"resultam excessivos, a julgar pelos indicadores de valorização baseados
nos múltiplos preço/lucro no longo prazo ajustados pelo ciclo, que não
incorporam informações sobre os rendimentos de bonds".
Para o BIS, uma
questão determinante para a economia mundial é até que pontos os balanços são
vulneráveis a uma subida das taxas de Juros. A dívida pública em boa
parte dos países continuou a aumentar. E indicadores do banco de possíveis
tensões financeiras aponta riscos significativos nos próximos anos no Canadá,
China e Hong Kong, pelo aumento de crédito turbinado pela atividade no setor
imobiliário.
O banco alerta
para uma "armadilha da dívida". Considera que a queda prolongada das
taxas de Juros a níveis extremamente baixos cria as condições que
complicam seu posterior retorno a níveis mais normais. E considera revelador o
que chama de "indícios de exuberância" nos mercados da dívida em
países que estiveram no epicentro da grande crise financeira global.
Nos EUA, as
famílias reduziram seu endividamento, mas a dívida corporativa na maior
economia do mundo está agora consideravelmente superior à de antes da crise. O
serviço da dívida só é pouco volumoso em razão dos Juros baixos. Na
medida em que os Juros subirem, o risco de default vai crescer e criar
complicações para o crescimento da economia global.
Brasil tem
segunda maior relação dívida/PIB entre emergentes
O Brasil tem a
segunda maior dívida pública em proporção do Produto Interno Bruto (PIB)
entre as economias emergentes, com o indicador tendo saltado de 61,6% para
79,4% entre 2012 e o primeiro trimestre de 2017 (pelo conceito de "core
debt" ou dívida básica, que não inclui as estatais, por exemplo), só
ficando atrás de Cingapura (115,4%).
É o que mostra o
Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos Bancos
Centrais, em seu relatório trimestral sobre a atividade bancária
internacional. A dívida pública de 23 emergentes pesquisados dobrou desde 2007
e alcançou US$ 11,7 trilhões no fim de 2016. Desse montante, Brasil, China e
Índia acumulavam endividamento de mais de US$ 8 trilhões.
O endividamento do
governo brasileiro aumentou US$ 107 bilhões no primeiro trimestre deste ano e
totalizou US$ 1,598 trilhão, uma alta de 7,1%; o da Índia chegou a US$ 1,592
trilhão e o da China, a US$ 5,207 trilhões.
O BIS foca a
chamada "core debt", abrangendo empréstimos, títulos de dívida, moeda
e depósitos. Diz que, para o setor governamental, isso representa a maior parte
da dívida ampla.
O governo
brasileiro aparece em primeiro lugar na emissão de títulos de dívida no mercado
local e internacional, entre os emergentes pesquisados, com um estoque de US$
950 bilhões.
Mas o banco nota
que os governos do Brasil e do México têm substituído Títulos públicos
locais denominados em moeda estrangeira e taxa de juro variável por títulos com
taxa fixa e indexados à inflação. No fim de 2016, as obrigações indexadas à
inflação representavam 34% dos papéis do governo federal brasileiro no mercado.
A dívida governamental
dos emergentes como proporção do PIB cresceu de 41% para 51% entre 2002
e 2016 - mas ainda é menor do que a de alguns europeus, como França (96,4%),
(Itália (132,5%), Portugal (130,4%) e Grécia (179,4%). Na Alemanha, motor da
economia europeia, a dívida do governo em relação ao PIB baixou de 79,9%
para 68,2% entre 2012 e 2016.
O relatório do BIS
traz na verdade mensagem mais positiva agora do que em estudos anteriores,
quando o banco alertava para riscos de uma crise por causa do alto endividamento
da China, segunda maior economia do planeta. Desta vez, diz que no geral os
governos de emergentes têm conseguido pegar mais dinheiro emprestado com prazos
maiores (média de 7,7 anos), taxa fixa e em moeda local - modalidades mais
comparáveis às de países desenvolvidos. Somente 14% do estoque da dívida dos 23
emergentes cobertos pelo estudo está em moeda estrangeira, ante 32% no fim de
2001.
Para o BIS, de um
lado, isso ajuda na expansão e desenvolvimento do mercado de capitais nos
emergentes. Ao mesmo tempo, prazos maiores de vencimento dos papéis significa
que uma alta global das taxas dos títulos poderá ter impacto maior do que
previsto, trazendo risco para rolagem da dívida e outros efeitos adversos. Isso
porque a desvalorização dos preços dos títulos provocada por uma alta de Juros,
esperada nos mercados desenvolvidos, é maior nos títulos de mais longo prazo.
Adoção de
política macroprudencial traz crescimento sustentável
Bancos Centrais mais ativos no uso de medidas macroprudenciais para
enfrentar turbulências financeiras tendem a ver seu PIB crescer de forma
mais sustentável e menos volátil. Por sua vez, o uso "ad-hoc" (para
determinado efeito no momento) dessas políticas tende a afetar a expansão da
economia.
A conclusão é de
um estudo de quatro economistas do Banco de Compensações Internacionais (BIS),
incluindo Luiz Awazu Pereira, que é vice-diretor no banco dos Bancos
Centrais e foi vice-presidente do Banco Central do Brasil.
O Brasil aparece
como um dos países mais ativos na adoção de medidas, com 30 no pré-crise e 23
no pós-crise, comparado a duas nos dois lados nos Estados Unidos, por exemplo.
Política
macroprudencial inclui instrumentos baseados em capital (requisitos de capital
anticíclicos, restrições de alavancagem, provisionamento geral ou dinâmico) e
requisitos de liquidez. As ferramentas macroprudenciais cíclicas incluem
instrumentos do lado do ativo (limites de crescimento do crédito, índice máximo
de serviço /renda, limites às exposições dos bancos ao setor imobiliário); além
de mudanças nas reservas mínimas e instrumentos monetários (variações nos
limites de descasamentos cambiais estrangeiros e posições abertas líquidas).
Esse tipo de
medida pode pesar sobre o crescimento da produção, pelo impacto sobre a oferta
do crédito e do investimento.
No entanto, com
base em dados de 64 países desenvolvidos e emergentes, os autores examinam o
desempenho econômico no longo prazo. E concluem que, quanto mais o país recorre
a medidas macroprudenciais de forma sistemática, mais o PIB cresce de forma
sustentável.
Mas nota que essas
políticas são menos efetivas em países que são muito abertos ou com sistemas
financeiros muito desenvolvidos, embora quando essas duas condições existirem
juntas as medidas macroprudenciais tendem a ganhar em eficácia.
Conforme os
autores, os resultados do estudo sugerem que políticas macroeconômicas, como
qualquer terapia, podem ter efeitos colaterais e precisam ser administradas
corretamente.
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