A ciência que segue nos salvando
Sábado, 6 de Junho de 2020
Sibele Negromonte
sibelenegromonte.df@dabr.com.br
Nunca a humanidade precisou tanto da genialidade e do trabalho árduo dos cientistas. Neste exato momento, milhares deles, espalhados pelo planeta, debruçam-se sobre análises, experimentos e estudos para descobrir uma vacina que barre o avanço avassalador da covid-19. Algumas, promissoramente, já em fase de testes. A ciência está em evidência, mas não podemos nos esquecer de todos os benefícios que ela já proporcionou e ainda vai proporcionar.
Há dois meses, eu usei este mesmo espaço para compartilhar com os leitores o turbilhão pessoal pelo qual estava passando: o diagnóstico, um pouco antes do início da quarentena, de um câncer de mama. Hoje, sou só gratidão à ciência. Graças aos avanços dela, os médicos puderam tomar a decisão segura de, por exemplo, poupar-me da quimioterapia -- um tratamento fundamental, que ao longo dos anos tem salvado tantas vidas, mas que ainda traz consigo fortes efeitos colaterais, se bem que em uma escala muito menor do que antes. Mais um benefício da ciência.
O meu primeiro contato com o oncotype DX, o exame que determinou que eu não precisaria da quimioterapia, antecedeu minha experiência com essa doença. Em junho de 2018, estive em Chicago, nos EUA, para fazer a cobertura da Asco, o maior congresso de oncologia do mundo. Naquele ano, um dos principais estudos apresentados mostrava que era possível evitar a quimioterapia em cerca de 70% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama em estágio inicial e do tipo menos agressivo, desde que ele não tivesse se espalhado para os gânglios linfáticos. Exatamente o que um dia viria a ser meu caso.
Claro que não é tão simples assim. O oncotype DX permite a análise de 21 genes do tumor e, a partir dessa avaliação, é estabelecida uma pontuação, que vai de 0 a 100. Quanto mais baixo o score, melhor. Depende, ainda, da idade da paciente e de outros fatores. Esse teste revolucionou o tratamento de tal tipo de tumor. Soube, depois, que, durante a Asco de 2019, foram apresentados aprofundamentos desse estudo que expandiram ainda mais as possibilidades de usar apenas a terapia hormonal com segurança. Mais um legado da ciência.
Mas aí vem a notícia ruim. Com um custo de US$ 4,5 mil, sem cobertura pela quase totalidade dos planos de saúde ou pelo SUS, o oncotype é inacessível à maioria das brasileiras. Uma restrição que, para os oncologistas que entrevistei, na época, representa um desperdício. Afinal, a precisão dessa ferramenta diagnóstica evitaria quimioterapias desnecessárias: um ganho que poderia ser quantificado em reais poupados e em efeitos colaterais evitados.
Infelizmente, porém, essa é uma realidade ainda muito distante para as brasileiras. Em um país em que muitas não conseguem agendar simples mamografias, ainda pecamos pela ausência do direito a tratamentos básicos e salvadores de vidas. E o quadro piorou desde o início da pandemia. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, procedimentos de rastreamento e tratamento de câncer de mama em hospitais públicos caíram em cerca de 75% entre março e abril, em comparação com o mesmo período do ano passado.Um infeliz retrato de como a ciência e a saúde são tratadas no Brasil!
Há dois meses, eu usei este mesmo espaço para compartilhar com os leitores o turbilhão pessoal pelo qual estava passando: o diagnóstico, um pouco antes do início da quarentena, de um câncer de mama. Hoje, sou só gratidão à ciência. Graças aos avanços dela, os médicos puderam tomar a decisão segura de, por exemplo, poupar-me da quimioterapia -- um tratamento fundamental, que ao longo dos anos tem salvado tantas vidas, mas que ainda traz consigo fortes efeitos colaterais, se bem que em uma escala muito menor do que antes. Mais um benefício da ciência.
O meu primeiro contato com o oncotype DX, o exame que determinou que eu não precisaria da quimioterapia, antecedeu minha experiência com essa doença. Em junho de 2018, estive em Chicago, nos EUA, para fazer a cobertura da Asco, o maior congresso de oncologia do mundo. Naquele ano, um dos principais estudos apresentados mostrava que era possível evitar a quimioterapia em cerca de 70% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama em estágio inicial e do tipo menos agressivo, desde que ele não tivesse se espalhado para os gânglios linfáticos. Exatamente o que um dia viria a ser meu caso.
Claro que não é tão simples assim. O oncotype DX permite a análise de 21 genes do tumor e, a partir dessa avaliação, é estabelecida uma pontuação, que vai de 0 a 100. Quanto mais baixo o score, melhor. Depende, ainda, da idade da paciente e de outros fatores. Esse teste revolucionou o tratamento de tal tipo de tumor. Soube, depois, que, durante a Asco de 2019, foram apresentados aprofundamentos desse estudo que expandiram ainda mais as possibilidades de usar apenas a terapia hormonal com segurança. Mais um legado da ciência.
Mas aí vem a notícia ruim. Com um custo de US$ 4,5 mil, sem cobertura pela quase totalidade dos planos de saúde ou pelo SUS, o oncotype é inacessível à maioria das brasileiras. Uma restrição que, para os oncologistas que entrevistei, na época, representa um desperdício. Afinal, a precisão dessa ferramenta diagnóstica evitaria quimioterapias desnecessárias: um ganho que poderia ser quantificado em reais poupados e em efeitos colaterais evitados.
Infelizmente, porém, essa é uma realidade ainda muito distante para as brasileiras. Em um país em que muitas não conseguem agendar simples mamografias, ainda pecamos pela ausência do direito a tratamentos básicos e salvadores de vidas. E o quadro piorou desde o início da pandemia. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, procedimentos de rastreamento e tratamento de câncer de mama em hospitais públicos caíram em cerca de 75% entre março e abril, em comparação com o mesmo período do ano passado.Um infeliz retrato de como a ciência e a saúde são tratadas no Brasil!
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