Caoa quer conduzir avanço chinês na AL
Veículos Grupo inicia exportação e planeja ter mais fábricas na região
Quarta-feira, 17 de Junho de 2020
Marli Olmos
A cada dia o empresário brasileiro Carlos Alberto de Oliveira Andrade, proprietário do grupo que leva suas iniciais, Caoa, se aproxima mais dos chineses. Com parcerias com marcas de veículos da China, ele busca ampliar seu império, no Brasil e na América Latina.
Há poucos dias, o grupo iniciou a exportação de carros da Chery para o Paraguai. Caoa diz que esse é só o começo do plano que fará do Brasil uma base de exportação de veículos chineses para a América Latina, inclusive México. Ele também planeja ter até uma fábrica em algum outro país da região.
Isso não quer dizer que desistiu de erguer a terceira fábrica no Brasil, depois da frustrada tentativa de comprar as instalações da Ford em São Bernardo do Campo (SP). O nome do futuro parceiro — chinês — é mantido em sigilo.
O namoro do brasileiro com os chineses assemelha-se ao que ele teve há mais de duas décadas com os franceses da Renault. Aquele casamento, porém, terminou com brigas na Justiça logo depois que a montadora decidiu assumir os negócios no Brasil.
Depois disso, a Caoa aproximou-se dos coreanos da Hyundai, marca que ainda representa. Nesse caso, a relação ficou curiosa desde que a Hyundai decidiu erguer a própria fábrica em Piracicaba (SP) em 2012.
Com fábricas em Anápolis (GO) e Jacareí (SP), o grupo Caoa produz no Brasil praticamente todos os modelos que vende no país. É dono de uma fatia em torno de 5% do mercado brasileiro, somando quase 1% da Chery e cerca da metade das vendas da Hyundai (a outra metade é a da própria empresa coreana).
Em janeiro, a Caoa começará a produzir e vender carros da Exeed, segmento de luxo da Chery. Com eles, o empresário pretende brigar com marcas como Mercedes-Benz e BMW. Mas para alcançar o sonho de protagonismo na expansão chinesa na América Latina, ele sabe que ainda precisa fazer o consumidor brasileiro gostar mais de carros chineses e convencê-lo de que é um produto de boa qualidade. Para isso, continua a recorrer a fortes campanhas publicitárias em todos os veículos de comunicação. É um dos maiores anunciantes do país.
É conhecida, no meio empresarial, a trajetória do Dr. Carlos Alberto, como é chamado na empresa. Começou quando era médico em Campina Grande (PB) e decidiu ficar com a concessionária Ford que foi a falência sem lhe entregar o Landau que ele havia comprado. Com 234 lojas hoje, a Caoa é o maior revendedor de veículos do país.
Seu dono é um empresário singular, reservado. Não costuma dar entrevistas e não revela números da empresa, como faturamento, índice de nacionalização de peças ou gastos em publicidade. Nem tampouco alguns pessoais, como sua idade.
Na presidência do conselho, o empresário começa a preparar o processo sucessório na companhia. Os dois filhos estudam administração nos Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, ele diz que só pretende parar de trabalhar daqui a pelo menos duas décadas. Acompanhe, abaixo, os principais trechos da entrevista que o dono da Caoa concedeu ao Valor :
Valor: Apesar da crise, o grupo Caoa começou a exportar um pequeno lote do modelo Tiggo 2 para o Paraguai. O que representa essa estreia no mercado externo?
Carlos Alberto de Oliveira Andrade: Isso é bom para o país porque os dólares ficam aqui. Somos a única montadora que não vai mandar dólares para fora.
Valor: O senhor tem planos de ampliar as vendas externas?
Caoa: O Paraguai é só o início de um negócio que vai crescer. Já recebemos autorização da Chery para vender para a Argentina e outros. Temos um contrato para exportar para toda a América Latina, inclusive México.
Valor: Os planos incluem fábrica em algum outro país?
Caoa: Sim. Futuramente teremos fábrica em algum lugar da América Latina. Está no contrato.
Valor: E quanto à terceira fábrica no Brasil em parceria com uma marca chinesa? O senhor desistiu?
Caoa: Está caminhando a passos lentos, mas sólidos. A pandemia atrapalhou. Quem está negociando é o Marcello (Marcello Braga, diretor de marketing da Caoa). Ele fala inglês e me representa. Será um grande negócio.
Valor: Esse plano de produção local tem a ver com a alta do dólar?
Caoa: Perfeito. Não só localizar a produção como exportar.
Valor: O grupo Caoa produz veículos Hyundai e a Hyundai tem a sua própria fábrica em Piracicaba (SP). É possível exportar veículos dessa marca também?
Caoa: Estamos em negociação. Tive reunião na semana passada. Várias coisas podem acontecer. Uma delas é que talvez as duas empresas possam exportar.
Valor: Como tem sido a sua vida profissional durante a pandemia?
Caoa: Esse sistema de reunião virtual tem sido muito bacana, eficiente. A gente fala com tranquilidade porque não se distrai. Recentemente fiz uma reunião com o CEO da Chery. Puxa vida. Como tomamos decisões fortes.
Valor: Apesar da crise, o grupo Caoa continua a investir em campanhas publicitárias de peso. Nada mudou com a pandemia?
Caoa: A propaganda sempre tem retorno. Tanto em jornal, meio digital ou televisão. A publicidade é sempre boa para vendas. Às vezes você faz uma propaganda que toca mais. A da semana passada deu bastante retorno.
Valor: O que ela tinha?
Caoa: Oferecemos preço da tabela da Fipe na troca do carro usado e mais um desconto. Deu um bom resultado.
Valor: Como está a rotina nas fábricas do grupo em Jacareí (SP) e Anápolis (GO) ?
Caoa: Voltamos precariamente no dia 8. Mas a partir do dia 22 retomaremos a todo vapor.
Valor: Com a crise, há planos de suspender ou adiar lançamentos?
Caoa: Adiamos de julho para agosto o lançamento do modelo Tiggo 8. Só um mês.
Valor: O senhor está, então, otimista?
Caoa: Muito otimista. Por uma razão. Tenho percebido que os carros da China têm muita tecnologia. Quando estive na China em 2017 me levaram ao cento de pesquisa e desenvolvimento da Chery e me impressionei muito. Eles têm uma infraestrutura violenta, um negócio gigantesco.
Valor: O senhor acredita, então, no potencial chinês nesse setor?
Caoa: A tecnologia chinesa vai ficar muito à frente de todas.A Chery tem uma marca de luxo, a Exeed, com a qual pretende brigar com Mercedes-Benz e BMW. E eu vou lançar essa marca no Brasil em janeiro.
Valor: Serão carros importados?
Caoa: Não. Vamos fabricar aqui. Já estamos nos preparando.
Valor: Os planos de crescimento não mudaram, então, apesar da pandemia...
Caoa: Não mudou nada. Pelocontrário. Na última reunião com a direção da Chery me disseram que na América Latina o crescimento da marca será por meio da parceria com a Caoa. Essa animação vem tanto da parte deles quanto minha. Em 2018, percebi que as marcas chinesas iam despontar em qualidade. Agora sei que elas vão ultrapassar o mundo inteiro. Tivemos as ondas dos carros alemães, japoneses e depois coreanos. Chegou a vez da China.
Valor: O senhor tem uma longa experiência em vendas. Como será o comportamento do consumidor com a pandemia?
Caoa: Acho que quem puder trabalhar com automóvel vai passar a ir de automóvel, mesmo aquele que pegava metro ou ônibus. Isso pode elevar a demanda.
Valor: Mas a queda da atividade, o desemprego, a confusão política, com constante troca de ministros... Isso não preocupa um empresário como o senhor?
Caoa: Preocupa muito. Qualquer ruído preocupa. Mas se conseguirmos superar isso o Brasil pode retomar o crescimento porque é competitivo nas exportações de commodities, por exemplo. Em geral, o Brasil vai bem, as instituições funcionam. Veja o caso das prisões dos últimos dias. O presidente Bolsonaro tem um jeitão que às vezes eu penso que é tática dele. Mas não existe corrupção. Os escândalos em compras de materiais hospitalares foram debelados rapidamente. Antigamente isso não existia.
Valor: O que o senhor acha do ministro da Economia, Paulo Guedes? Conversa com ele?
Caoa: Gosto muito. É ponderado, sério. De vez em quando conversamos. Eu confio nesse governo.
Valor: O grupo Caoa surgiu em 1979. Que balanço o senhor faz desses 41 anos e de sua trajetória como empresário?
Caoa: O grupo tornou-se um ícone em matéria de automóveis. E apresenta grande potencial. Eu tenho dois filhos, de 18 e 20 anos, estudando em excelentes universidades nos Estados Unidos. Estudam business. Um em Wharton e o outro em Brown. Faço com que eles participem dos negócios. Agora, com a pandemia, estão comigo no Brasil, acompanhando tudo.
Valor: Mas o senhor já está pensando em parar?
Caoa: De jeito nenhum. Pretendo ficar pelo menos mais 20 anos na luta. Mas esse negócio tem um potencial fantástico para ocupar toda a América Latina. E meus filhos vão continuar com ele.
Em geral, o Brasil vai bem. O presidente Jair Bolsonaro tem um jeitão que às vezes eu penso que é tática dele
Veículos Grupo inicia exportação e planeja ter mais fábricas na região
Quarta-feira, 17 de Junho de 2020
Marli Olmos
A cada dia o empresário brasileiro Carlos Alberto de Oliveira Andrade, proprietário do grupo que leva suas iniciais, Caoa, se aproxima mais dos chineses. Com parcerias com marcas de veículos da China, ele busca ampliar seu império, no Brasil e na América Latina.
Há poucos dias, o grupo iniciou a exportação de carros da Chery para o Paraguai. Caoa diz que esse é só o começo do plano que fará do Brasil uma base de exportação de veículos chineses para a América Latina, inclusive México. Ele também planeja ter até uma fábrica em algum outro país da região.
Isso não quer dizer que desistiu de erguer a terceira fábrica no Brasil, depois da frustrada tentativa de comprar as instalações da Ford em São Bernardo do Campo (SP). O nome do futuro parceiro — chinês — é mantido em sigilo.
O namoro do brasileiro com os chineses assemelha-se ao que ele teve há mais de duas décadas com os franceses da Renault. Aquele casamento, porém, terminou com brigas na Justiça logo depois que a montadora decidiu assumir os negócios no Brasil.
Depois disso, a Caoa aproximou-se dos coreanos da Hyundai, marca que ainda representa. Nesse caso, a relação ficou curiosa desde que a Hyundai decidiu erguer a própria fábrica em Piracicaba (SP) em 2012.
Com fábricas em Anápolis (GO) e Jacareí (SP), o grupo Caoa produz no Brasil praticamente todos os modelos que vende no país. É dono de uma fatia em torno de 5% do mercado brasileiro, somando quase 1% da Chery e cerca da metade das vendas da Hyundai (a outra metade é a da própria empresa coreana).
Em janeiro, a Caoa começará a produzir e vender carros da Exeed, segmento de luxo da Chery. Com eles, o empresário pretende brigar com marcas como Mercedes-Benz e BMW. Mas para alcançar o sonho de protagonismo na expansão chinesa na América Latina, ele sabe que ainda precisa fazer o consumidor brasileiro gostar mais de carros chineses e convencê-lo de que é um produto de boa qualidade. Para isso, continua a recorrer a fortes campanhas publicitárias em todos os veículos de comunicação. É um dos maiores anunciantes do país.
É conhecida, no meio empresarial, a trajetória do Dr. Carlos Alberto, como é chamado na empresa. Começou quando era médico em Campina Grande (PB) e decidiu ficar com a concessionária Ford que foi a falência sem lhe entregar o Landau que ele havia comprado. Com 234 lojas hoje, a Caoa é o maior revendedor de veículos do país.
Seu dono é um empresário singular, reservado. Não costuma dar entrevistas e não revela números da empresa, como faturamento, índice de nacionalização de peças ou gastos em publicidade. Nem tampouco alguns pessoais, como sua idade.
Na presidência do conselho, o empresário começa a preparar o processo sucessório na companhia. Os dois filhos estudam administração nos Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, ele diz que só pretende parar de trabalhar daqui a pelo menos duas décadas. Acompanhe, abaixo, os principais trechos da entrevista que o dono da Caoa concedeu ao Valor :
Valor: Apesar da crise, o grupo Caoa começou a exportar um pequeno lote do modelo Tiggo 2 para o Paraguai. O que representa essa estreia no mercado externo?
Carlos Alberto de Oliveira Andrade: Isso é bom para o país porque os dólares ficam aqui. Somos a única montadora que não vai mandar dólares para fora.
Valor: O senhor tem planos de ampliar as vendas externas?
Caoa: O Paraguai é só o início de um negócio que vai crescer. Já recebemos autorização da Chery para vender para a Argentina e outros. Temos um contrato para exportar para toda a América Latina, inclusive México.
Valor: Os planos incluem fábrica em algum outro país?
Caoa: Sim. Futuramente teremos fábrica em algum lugar da América Latina. Está no contrato.
Valor: E quanto à terceira fábrica no Brasil em parceria com uma marca chinesa? O senhor desistiu?
Caoa: Está caminhando a passos lentos, mas sólidos. A pandemia atrapalhou. Quem está negociando é o Marcello (Marcello Braga, diretor de marketing da Caoa). Ele fala inglês e me representa. Será um grande negócio.
Valor: Esse plano de produção local tem a ver com a alta do dólar?
Caoa: Perfeito. Não só localizar a produção como exportar.
Valor: O grupo Caoa produz veículos Hyundai e a Hyundai tem a sua própria fábrica em Piracicaba (SP). É possível exportar veículos dessa marca também?
Caoa: Estamos em negociação. Tive reunião na semana passada. Várias coisas podem acontecer. Uma delas é que talvez as duas empresas possam exportar.
Valor: Como tem sido a sua vida profissional durante a pandemia?
Caoa: Esse sistema de reunião virtual tem sido muito bacana, eficiente. A gente fala com tranquilidade porque não se distrai. Recentemente fiz uma reunião com o CEO da Chery. Puxa vida. Como tomamos decisões fortes.
Valor: Apesar da crise, o grupo Caoa continua a investir em campanhas publicitárias de peso. Nada mudou com a pandemia?
Caoa: A propaganda sempre tem retorno. Tanto em jornal, meio digital ou televisão. A publicidade é sempre boa para vendas. Às vezes você faz uma propaganda que toca mais. A da semana passada deu bastante retorno.
Valor: O que ela tinha?
Caoa: Oferecemos preço da tabela da Fipe na troca do carro usado e mais um desconto. Deu um bom resultado.
Valor: Como está a rotina nas fábricas do grupo em Jacareí (SP) e Anápolis (GO) ?
Caoa: Voltamos precariamente no dia 8. Mas a partir do dia 22 retomaremos a todo vapor.
Valor: Com a crise, há planos de suspender ou adiar lançamentos?
Caoa: Adiamos de julho para agosto o lançamento do modelo Tiggo 8. Só um mês.
Valor: O senhor está, então, otimista?
Caoa: Muito otimista. Por uma razão. Tenho percebido que os carros da China têm muita tecnologia. Quando estive na China em 2017 me levaram ao cento de pesquisa e desenvolvimento da Chery e me impressionei muito. Eles têm uma infraestrutura violenta, um negócio gigantesco.
Valor: O senhor acredita, então, no potencial chinês nesse setor?
Caoa: A tecnologia chinesa vai ficar muito à frente de todas.A Chery tem uma marca de luxo, a Exeed, com a qual pretende brigar com Mercedes-Benz e BMW. E eu vou lançar essa marca no Brasil em janeiro.
Valor: Serão carros importados?
Caoa: Não. Vamos fabricar aqui. Já estamos nos preparando.
Valor: Os planos de crescimento não mudaram, então, apesar da pandemia...
Caoa: Não mudou nada. Pelocontrário. Na última reunião com a direção da Chery me disseram que na América Latina o crescimento da marca será por meio da parceria com a Caoa. Essa animação vem tanto da parte deles quanto minha. Em 2018, percebi que as marcas chinesas iam despontar em qualidade. Agora sei que elas vão ultrapassar o mundo inteiro. Tivemos as ondas dos carros alemães, japoneses e depois coreanos. Chegou a vez da China.
Valor: O senhor tem uma longa experiência em vendas. Como será o comportamento do consumidor com a pandemia?
Caoa: Acho que quem puder trabalhar com automóvel vai passar a ir de automóvel, mesmo aquele que pegava metro ou ônibus. Isso pode elevar a demanda.
Valor: Mas a queda da atividade, o desemprego, a confusão política, com constante troca de ministros... Isso não preocupa um empresário como o senhor?
Caoa: Preocupa muito. Qualquer ruído preocupa. Mas se conseguirmos superar isso o Brasil pode retomar o crescimento porque é competitivo nas exportações de commodities, por exemplo. Em geral, o Brasil vai bem, as instituições funcionam. Veja o caso das prisões dos últimos dias. O presidente Bolsonaro tem um jeitão que às vezes eu penso que é tática dele. Mas não existe corrupção. Os escândalos em compras de materiais hospitalares foram debelados rapidamente. Antigamente isso não existia.
Valor: O que o senhor acha do ministro da Economia, Paulo Guedes? Conversa com ele?
Caoa: Gosto muito. É ponderado, sério. De vez em quando conversamos. Eu confio nesse governo.
Valor: O grupo Caoa surgiu em 1979. Que balanço o senhor faz desses 41 anos e de sua trajetória como empresário?
Caoa: O grupo tornou-se um ícone em matéria de automóveis. E apresenta grande potencial. Eu tenho dois filhos, de 18 e 20 anos, estudando em excelentes universidades nos Estados Unidos. Estudam business. Um em Wharton e o outro em Brown. Faço com que eles participem dos negócios. Agora, com a pandemia, estão comigo no Brasil, acompanhando tudo.
Valor: Mas o senhor já está pensando em parar?
Caoa: De jeito nenhum. Pretendo ficar pelo menos mais 20 anos na luta. Mas esse negócio tem um potencial fantástico para ocupar toda a América Latina. E meus filhos vão continuar com ele.
Em geral, o Brasil vai bem. O presidente Jair Bolsonaro tem um jeitão que às vezes eu penso que é tática dele
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