quarta-feira, 24 de junho de 2020

Covid-19 abre novo debate sobre uso de plásticos(Valor, 24 6 2020)

Covid-19 abre novo debate sobre uso de plásticos
Petroquímica No geral, demanda de transformados deve cair até 7%
Quarta-feira, 24 de Junho de 2020 



Valor Econômico 

Stella Fontes

O avanço da covid-19 acelerou momentaneamente a demanda por determinados produtos plásticos no Brasil, mas esse fenômeno não impedirá que, no agregado, o setor encerre 2020 com queda alinhada à do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, estimada em torno de 6,5%. Ao mesmo tempo, a pandemia jogou nova luz no debate sobre o uso do plástico, ao evidenciar benefícios do material que passou a ser visto, não à toa, como vilão do meio ambiente e alvo de proibições em todo o mundo.

O novo coronavírus, avalia a indústria brasileira do plástico, mostrou o quão complexa é essa discussão. Por representar uma solução simples, barata e eficaz, o material está, por exemplo, nos descartáveis que ganharam relevância com a crise sanitária. A saída para o problema da destinação dos resíduos, portanto, não deve ser reduzida ao banimento do plástico de uso único, defendem produtores de resinas e transformadores plásticos.

Em abril, uma liminar, em ação movida pelo Sindicato da Indústria de Material Plástico, Transformação e Reciclagem do Estado de São Paulo (Sindiplast), suspendeu a lei da capital paulista que proíbe o fornecimento de copos, pratos e talheres de plástico a partir de 1º de janeiro do ano que vem. No entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o material atende às necessidades de higiene e segurança na prevenção da covid-19.

“A pandemia aumenta a consciência das pessoas sobre a complexidade do problema”, diz o vice-presidente de Olefinas e Poliolefinas América do Sul da Braskem, Edison Terra. Do lado das resinas, a única aplicação que tem consumido mais desde o início do ano é a de não tecidos, obtidos a partir de polipropileno (PP) e, em menor escala, polietileno (PE). Os não tecidos são muito usados na área de saúde, em itens como máscaras de proteção e aventais. Outros setores, como o automotivo e o de linha branca, tiveram quedas drásticas e a expectativa é a de que recuperação seja lenta. No geral do mercado doméstico de resinas, desde maio observa-se melhora paulatina.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, a pandemia deve servir de oportunidade para ampliar as discussões sobre os caminhos da reciclagem e da coleta seletiva. “O caminho não é banir o plástico. O caminho é a economia circular”, diz.

Os transformadores são grandes fornecedores dos hospitais — cateteres, bolsas de sangue, seringas e outros itens são feitos de plástico e não podem ser reutilizados — e houve aceleração nos pedidos nesses segmentos, assim como no de embalagens de alimentos e descartáveis. Ainda assim, no acumulado de abril e maio, no auge da pandemia, houve queda de 36% na produção. Para o ano, a expectativa do setor é de queda de 7%.

“Se não fossem os descartáveis, como a área de saúde seria atendida? E essa questão de higiene não vale só para a pandemia”, observa Roriz, acrescentando que, mesmo em produtos mais sofisticados, como um drone, o plástico ainda se apresenta como a melhor alternativa.

Na Braskem, afirma Terra, a argumentação é a de que, por se tratar de tema complexo, não se pode olhar em uma única direção. “O problema [dos resíduos plásticos] está aí e tem de ser enfrentado”, pondera. Em sua avaliação, não haverá uma solução única para essa questão.

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